• Porque bunda não sustenta relação
  • Porque bunda não sustenta relação


    Na adolescência, sonhava em namorar mulheres com corpos perfeitos como aqueles que eu colecionava dentro de Playboys de páginas grudadas. Quando alguém me perguntava “Ricardo, como você imagina a sua futura namorada?”, eu respondia: gostosa. Ou: bunduda. Ou: coxuda. Ou: peituda. Ou: estilo Sheila Carvalho.

    Por que eu dava respostas assim? Por dois motivos: primeiro, porque estava com os hormônios frenéticos, fervilhando, pensando em sexo com a mesma frequência que hoje – dias depois de ter iniciado uma reeducação alimentar – penso em doce de leite, bolos e afins. Depois, porque eu sentia muita necessidade de mostrar ao mundo (aos meus amigos, principalmente) que era capaz de conquistar mulheres dentro do padrão estético em evidência na época, representado pelos corpos que entravam na Banheira do Gugu e seguravam o tchan na TV. Eu desejava uma mulher para exigir por aí, saca? Queria que pensassem: “Nossa, que cara pegador!”. Uma baita idiotice, i know, mas era assim que eu pensava.

    Hoje, graças ao meu relacionamento atual e àquilo que aprendi com os lances que já acabaram, penso muito diferente: entendo que corpos “gostosônicos” não devem vistos como prioridade àqueles que desejam uma relação além do campo sexual. Se você busca uma trepada e nada mais, compreendo se estiver se lixando para o conteúdo e outros paranauês que nada têm a ver com a carcaça. Porém, se está a fim de uma relação que não acontece só na cama, não faz sentido colocar o físico acima de coisas essenciais a qualquer laço, como honestidade, vontade de fazer dar certo e respeito.

    Não vou negar: uma bunda como a da Sheila Carvalho dá tesão. No entanto, se a bunda não vier acompanhada por uma pessoa com quem dá vontade de passar dias tagarelando sobre tudo (de apocalipses zumbis às malditas tomadas sem padrão) e disposta a superar – de maneira pacífica – as divergências de opinião naturais em qualquer convivência frequente, não será suficiente para fazer com que a relação permaneça sólida. Uma ereção, talvez, mas os relacionamentos precisam de muito mais do que solidez peniana para sobreviver, acredite.

    Um abdômen como o do Lucas Lucco molha calcinhas, eu tô ligado. Contudo, se não vier junto com demonstrações reais de respeito e sinceridade – aquelas que vão além do discurso -, não terá valia alguma a um namoro/casamento. Vai gerar inveja nas inimigas quando for com ele à praia e dará corda a alguns fetiches, só. Mas um relacionamento precisa de mais. Muito mais!

    Antes que algum gostosão – ou gostosona –  apareça em casa com o intuito de me bater com um pote de whey protein,  gostaria de deixar uma coisa bem clara: eu não sou contra corpos malhados. Pelo contrário: em alguns casos, eu os acho muito bonitos. E, se um abdômen rasgado não fosse incompatível com nhoque e outros rangos pelos quais sou apaixonado, até teria um. Só penso que um corpo bonito deve ser encarado sempre como um complemento, e nunca como a principal razão para escolher um namorado – ou namorada. Um corpo bonito é um tempero extra, a me ver. Um tempero extra que, sem o arroz e o feijão feito no capricho, não sustenta. Um tempero extra que, nas primeiras garfadas, pode parecer primordial, imbatível e irresistível, mas que, sem acompanhamentos que alimentam de verdade, rapidamente enjoará.

    As coisas que realmente mantêm uma relação nutrida não enfraquecem após alguns meses de sedentarismo e falta de grana para o suplemento, anote isso.

    ass-ricardo


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