A vida é um corre-corre danado, a rotina faz tudo ficar igualmente pálido e quando a gente dá por conta, tá vivendo numa ilha. Cercado de responsabilidades, de listas, de afazeres para por em dia e completamente exaustos para gargalhar até a barriga doer. Exceto quando eles aparecem, aquelas pessoinhas que chegam com brigadeiro, vinho, piada antiquada, sorriso e conforto para seu dia. Que te ajudam a ajustar os parafusos soltos da engrenagem cotidiana e te dão momentos para guardar com carinho, num cantinho macio da alma: os amigos.
Porque quem tem amigos tem história para contar. Você se entrega para eles, deixa seus maus hábitos virem à tona, suas verdades e receios. Compartilha mesa de bar, casa na praia, carona no carro, casaco em dias frios, gargalhadas honestas e lágrimas doídas. E eles até te julgam vez ou outra. Opinam na sua vida, questionam decisões, se reúnem numa sala para rir com você das suas tragédias, comendo batata de pacotinho e tomando cerveja. Mas te ajudam a superar cada uma delas, com amor, abraço e sofá, sempre que uma dessas mesmas tragédias fica difícil de resolver.
Então você percebe que eles estarão para sempre ali, por perto. Seja no disco emprestado e jamais devolvido, nas fotografias em dias de sol no meio do parque, no livro do Gabo acenando na prateleira, no cachecol verde ganhado de presente para aquecer o inverno, naquela dívida eterna da grana que veio em socorro e em todos os maravilhosos e cômicos momentos que partilharam.
Você vai contar aos netos e bisnetos sobre esses caras, pode apostar. Vai narrar com detalhes a vez que entraram como penetras num bloco de carnaval e acabaram expulsos da avenida. Do carro que quebrou no meio daquela viagem mal planejada para a praia, da noite com coberta e cerveja na pracinha do centro, dos porres de tequila em pubs claustrofóbicos, da árvore de natal que montaram juntos ao som de Zezé e Luciano (na terra dos Beatles) e de cada lembrança amarelada, mas, sobrevivente ao tempo.
Portanto, não importa se estão juntos, pela primeira vez, mapeando Paris nas escadarias de Montmartre, ou sentados em uma hamburgueria no meio de uma cidade, do interior do Brasil, olhando o trem passar e discutindo filmes do Tarantino. Essa pessoa que está sentada ao seu lado é aquele pedacinho de família que você pôde escolher e com que tem afinidades não compreensíveis. Que reconhece seu humor pelo tom da voz e que te ajuda a aguentar de pé os piores e melhores desastres da sua rotina desajeitada. Essa mesma pessoa vai ser parte das suas memórias mais bonitas e que te trarão lágrimas aos olhos quando a saudade do passado bater na porta. Portanto, faça o possível para levar essa pessoa com você, para sempre, para o futuro.