• Intimidade é muito mais  do que tirar a roupa
  • Intimidade é muito mais


    do que tirar a roupa


    Intimidade? Desconhecia até você se misturar, irreversivelmente, à minha vida. Por muitas vezes eu cheguei a confundi-la com “coragem para ficar sem roupa na presença de alguém”. Imaturidade, provavelmente. Porque hoje, graças à nossa relação e àquilo que por causa dela enxerguei, sei que intimidade é ter bravura para uma nudez muito mais profunda, mil vezes mais desafiadora – e grandiosa – do que mostrar a bunda depois de uma trepada de bambear as pernas.

    Com as mulheres com quem me relacionei antes de você, não passava da nudez corporal, exposição franca da pele. Ponto. A elas eu nunca mostrava todo o meu interior, nem depois de muito vinho tinto e outros paranauês que me deixam soltinho. Fobias? Inseguranças? Fraquezas? Fugia de todos os assuntos que possuíam a capacidade de colocá-las em evidência. Mudava o disco, na lata. Dizia que precisava partir imediatamente, que estava atrasadíssimo para… Eu não tirava as máscaras por nada, mesmo quando estava pra lá de apaixonado. Por que eu agia assim? Porque eu temia ser rejeitado após demonstrar as minhas imperfeições, meu lado negro – e humano. E por que eu, agora, consigo fazer o mais completo striptease em sua frente? Porque você, mesmo respondendo meu “Amo você!” com emoticons, faz com que eu me sinta amado, por completo, o suficiente para me motivar a acreditar que minhas tortuosidades são insuficientes para fazer com que desista do meu lado bom, aquele que vive a procurar formas de melhorar o seu dia e soluções mirabolantes para aniquilar seus desânimos.

    Eu cresci ouvindo coisas como “Seja forte” e “Não chore”, então, acreditava que a exposição dos meus calcanhares de Aquiles tinha potencial para incentivar as pessoas a desistirem de uma relação comigo. Desde o primeiro encontro, fazia de tudo para transpirar perfeição, força e sucesso, e assim, fantasiado de algo que não era – e nunca serei -, permanecia por todo o relacionamento, refém de uma farsa pesada e que, a cada dia, ficava mais difícil de ser desfeita. Hoje, felizmente, penso diferente: acredito que expor minhas fragilidades, como eu faço a você, é uma imensa demonstração de confiança, um retrato irrefutável da intimidade mais valiosa que um casal pode alcançar.

    Não imagina o alívio que sinto quando encontro com você após um dia inteiro escondido dentro de uma pesada armadura e rodeado por pessoas nas quais eu não confio plenamente. Não tem noção do bem-estar que me invade quando você entra em casa, desamarra meus tênis, oferece-me colo e, sem dizer muito, deixa-me à vontade para confessar que sofro ao pensar que todo o meu esforço pode não dar em nada, que não sou tão confiante como muitos leitores acreditam e outras coisas que, lá fora, eu soterro com sorrisos largos, “Deixa comigo!” e frases de efeito que aprendi com biscoitos da sorte.

    Engana-se, redondamente, quem acha que um casal com intimidade é aquele que faz cocô de porta aberta. Isso, a meu ver, é completamente desnecessário, uma castração de um momento particular, ou invasão de privacidade. Intimidade, para mim, tem muito mais a ver com o “não” que eu falo, sem hesitar, quando você me convida para um casamento, coisa que acho um porre. Intimidade, em minha opinião, está mais para a minha mão buscando a sua num momento de turbulência no avião. Afinal, com você, eu me sinto seguro o bastante para expressar as minhas inseguranças, todas elas, aquelas que eu escondi das minhas ex-namoradas. Intimidade, a meu ver, é aquilo que dá leveza à nossa relação, já que nela não há atuação ou necessidade de encolher a barriga quando nos sentamos nus para assistir à TV.

    Com você, meu bem, eu ando de alma nua, despido das falsas grandezas e indestrutíveis perfeições que trajo, comumente, temendo o julgamento da sociedade e de gente interesseira que chutaria a minha bunda se soubesse como sou frágil por dentro. Com você eu sorrio, ô se sorrio, mas também choro quando o mocinho bate as botas no final do filme. Não seguro as lágrimas como fazia com as anteriores, não! Choro mesmo, de inchar os zóios, com a certeza de que você não me achará menor por isso. Com a certeza de que, com você, ao menos, eu posso desaguar meu íntimo.

    Intimidade é a prova de que há confiança na capacidade que um amor tem de não padecer diante da mais absoluta – e nem sempre tão bela – nudez.

    ass-ricardo


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