Eu não consigo começar esse texto. Não tenho conseguido, aliás, começar nada, muito menos uma relação. Tenho preguiça daquela fase inicial em que ainda não se pode falar sobre qualquer coisa, ainda não se pode dizer “quero ficar sozinha agora” sem que isso pareça antipático, aquela fase de construção de confiança e de laços, é tudo muito bonito, mas é cansativo demais.
Às três da manhã, meio tonta, em um táxi de volta para casa, saindo à francesa de mais um encontro no qual de repente me dei conta de que não queria estar, ou, pela milésima vez, inventando que preciso ir porque o meu gato está doente e precisa de atenção.
Em todas as vezes, eu poderia ter ficado. Não havia nenhuma razão mais ou menos lógica, nada de que eu realmente quisesse fugir, apenas uma preguiça gigantesca das pessoas.
Poupe a sua compaixão, isso não é nem um pouco triste. É apenas uma satisfação confortável em estar a sós comigo, em me convencer de que não há nenhum problema em não ter prioridades românticas.
Companhia é fundamental, é verdade, eu compreendo intimamente, mas isso não deve significar que eu preciso me preocupar em ter um encontro no próximo sábado se me satisfaz ficar em casa, ler um livro, ouvir música, pensar sobre qualquer coisa inútil, ser vencida pelo cansaço e acordar com um ronronar de gato no lugar de um bom dia de alguém que eu definitivamente não quero na minha vida. Porque não há ninguém que eu realmente queira na minha vida no momento, e está tudo bem.
Viver um amor não é como vencer um bingo, não é como alcançar a linha de chegada, não é e não pode ser mais uma obrigação social estúpida. O amor precisa ser uma escolha.
Não estou fugindo das pessoas, estou fugindo das convenções que não aceitam números ímpares, estou fugindo de amores por conveniência, e sim, está tudo bem, porque não há nada de errado em sair à francesa de mais um lugar no qual de repente me dei conta de que não queria estar. Não há nada de errado em fugir do que me disseram que fizesse e sucumbir às minhas vontades.
Eu tenho fugido de tudo o que não me satisfaz até o fundo da alma, e esta definitivamente não é uma ideia idiota.