• O signo dele é só uma desculpa  (você é que não quer se envolver)
  • O signo dele é só uma desculpa


    (você é que não quer se envolver)


    Aquela parte de mim que ainda conserva alguma racionalidade – uma parte pequena, quase insignificante, diga-se de passagem – jamais admitiria que personalidades podem ser determinadas apenas pelo modo como os astros estão dispostos na hora em que a gente nasce.

    Mas, você sabe como é, eu sou pisciana, uma pipa avoada que acredita em vocação, destino, amores eternos e astrologia. E que também acha fascinante poder supor que está tudo escrito nas estrelas, literalmente. (Aliás, convenhamos: isso é a cara de uma pisciana).

    É divertido, é bacana, é até real, em certo ponto – longe de mim duvidar – mas, confessemos: essa coisa toda está tomando uma proporção assustadora.

    A minha amiga voltou de um primeiro encontro e me contou, com os olhinhos faiscando, a hora exata de nascimento do felizardo. (Quem se preocupa com signos num primeiro encontro? Ok, uns 90% das pessoas desta geração).

    “Acho que não vou encontrá-lo de novo.” “Mas você não disse que ele é fofo, toca violão e é bom de cama?” “É, mas ele é aquariano com ascendente em áries.”

    Então, mesmo adorando astrologia e mesmo sabendo que aquarianos com ascendente em áries não devem ser lá boa coisa, senti vontade de chorar de desespero porque as pessoas simplesmente piraram. Encontraram uma forma estúpida de abrigar os seus medos e de negar o que, no fim das contas, é inegável: não é o mapa astral, a gente é que não quer se envolver.

    O problema nunca foi o fato de ele ser geminiano. Vênus em escorpião, santo deus, dá-se um jeito! O que não tem jeito é a falta de vontade de conhecer o outro.

    A febre astrológica que tem acometido esta geração – e já não é de hoje, aliás – tem uma explicação tão lógica quanto desesperadora: é a desculpa perfeita para que tenhamos a falsa e patética sensação de que podemos enquadrar todos os nossos possíveis amores em doze personalidades definidas – algumas mais, se considerarmos as demais casas astrológicas.

    É quase como ter seres humanos com manuais de instrução. Seria o nosso sonho?

    Bem, seria, mas isso é estúpido, simplesmente porque seres humanos não vêm com manuais de instrução. Relacionamentos dão trabalho. Conhecer o outro dá trabalho, e não é uma combinação no João Bidu que vai ser capaz de nos salvar disso.

    Quando você cruza o caminho de outra pessoa e resolve adentrar a alma dela, você precisa de tempo e paciência para conhecê-la e amá-la em todas as suas peculiaridades. Quando você entra na vida do outro, entra vazio, despido, sem nenhuma certeza, sem nenhum pressuposto, nada além do que só o amor e a convivência poderão te ensinar.

    A modernidade líquida, diria Bauman, prefere eleger heróis e vilões, supor todos os detalhes do outro e se abster do trabalho de verdadeiramente conhecer alguém.

    E então nos conformamos com amores impossíveis porque o ascendente dele é uma bosta ou a vênus em peixes faz com que ele seja meio grudento, mas a verdade que não queremos confessar é que nós é que não temos a menor ideia do que fazer a respeito do amor.

    Nós somos bons em começar, mas essa coisa de dar continuidade não é com a gente, e os “crushs” (amores platônicos modernos, em tradução livre) são apenas o resultado dessa nossa ridícula inabilidade em continuar qualquer coisa.

    Eis, portanto, a dura realidade: se o mapa astral é realmente determinante para as suas relações, você tem um problema. Mas como eu sou pisciana e detesto duras realidades, vou continuar perguntando o signo e o ascendente antes de decidir amar alguém.

    ass-nathalie


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