Para alguns, pode parecer apenas um detalhe insignificante. Para mim, porém, a forma como uma pessoa trata o garçom é decisiva à imagem que construirei dela; tanto que, em meus primeiros encontros, eu sempre prestei muita atenção nisso, mesmo nas vezes em que me vi diante de decotes magnéticos e vozes tesônicas capazes de aguçar meus instintos mais animalescos.
Desconfio de pessoas que não dizem “por favor” e “obrigado” aos garçons, que nunca vão além de um seco “Me dá uma Coca-Cola” e que, quando a recebem de bandeja, nem uma piscadela em sinal de agradecimento mandam. Desconfio mesmo, pacas, a ponto de não conseguir estabelecer um laço – seja amoroso, seja de amizade, seja… – profundo com esse tipo de gente que se porta feito rei/rainha por onde passa.
Não sei o que você pensa a respeito, mas eu já refleti muito sobre isso, e cheguei a uma conclusão: a maneira como as pessoas tratam aqueles que as servem indica a capacidade que elas têm de se colocarem no lugar do outro, seja ele um frentista, caixa de supermercado ou vendedor de móveis. Compreende o meu ponto? Aquele que realmente consegue se imaginar na pele do outro nunca o trataria com indiferença ou falta de educação, como se ele não passasse de um robô sem qualquer valor humano, um escravo desprovido de coração que nasceu condenado a servir, servir, servir…
Frases como “eu tô pagando” e “ele não está fazendo mais do que a obrigação” me enojam, sério. A meu ver, expressam um claro: “eu sou um imbecil incapaz de entender que, antes de qualquer relação comercial, há uma relação humana em que as partes têm valor igualitário, mesmo que uma sirva e outra receba”.
E se você é do tipo que não é grosso (ou grossa) com o garçom apenas por medo de receber sua comida com cuspe, eu tenho algo a lhe dizer: você é um grandessíssimo babaca! Porque a educação é essencial a qualquer relação, e não algo deve ser utilizado apenas por medo de ingredientes extras – e gosmentos – em seu lanche. E digo mais: a educação deve ser mantida mesmo na hora de reclamar do atraso ou do tomate que não foi retirado. Erros acontecem, ô se acontecem, e não justificam grosserias e destrates. E se você age assim, de maneira ríspida, porque está cheio de problemas no trabalho ou por estar sentindo cólica renal, continua sendo um imbecil, ok? O que o garçom tem a ver com sua cruz? Nada. Se você precisa descontar a raiva que está sentindo porque sua piroca anda amolecendo no meio da transa, compre um saco de panca ou matricule-se na aula de yoga. Só não culpe o garçom que, apenas, esqueceu-se de tirar o bacon do seu sanduíche.
E, por favor, não seja do tipo que diz “precisamos tratar o boy bem porque o mundo dá voltas e, um dia, ele pode se tornar o diretor”. Isso, em minha opinião, é ser interesseiro de marca maior, do tipo que só faz algo pensando naquilo que poderá receber em troca. Precisamos tratar o garçom – e o porteiro, boy, frentista, faxineiro… – bem porque ele é humano, ponto, independente do serviço que exerce, e do quão importante tal função é considerada pela nossa sociedade umbiguista. Aliás, falando especificamente do garçom, não podemos subestimar a preciosidade de tal ofício, não acha? Pois além de habilidosos na arte de pegar arroz com duas colheres e da capacidade que têm de prever nossa sede por mais um chope, eles comumente ainda exercem a função de psicólogo especializado cornologia e outros traumas do coração, e nada cobram por isso. Nada!