Uma das melhores coisas que podemos fazer na vida é aceitar nossa imutável falta de controle sobre muitas coisas – a maioria delas, talvez.
Muitas vezes, por maior que seja a nossa vontade de mudar um cenário, não há nada que possamos fazer, infelizmente. É doloroso saber disso, eu sei. Porém, em alguns casos, é mais penoso ainda continuar esmurrando a ponta da faca em vão, com a ilusão de que estamos influenciando algo totalmente independe de nossos esforços e vontades.
O tempo, por exemplo, corre bem longe de nossas mãos; ou seja, sofrer porque está atrasada não fará com que o ponteiro reduza o passo ou faça uma pausa. Saca? Sendo assim, aceitar que chegará depois do horário combinado pode ser muito melhor – e mais saudável! – do que iniciar uma batalha mental angustiante – e fadada ao fracasso – contra os minutos. Não estou dizendo para deixar a pontualidade de lado, longe disso; mas imprevistos acontecem, certo? E nas vezes em que rolarem, meu conselho é: aceite o inevitável, e na próxima ocasião em que tiver um compromisso importante, saia de casa ainda mais cedo e leve um livro (se chegar antes do horário marcado, terá entretenimento).
Outra coisa sobre a qual você não tem total controle: a fidelidade do seu namorado/marido. O que foi, assustou? Só estou dizendo a verdade para que você, de uma vez por todas – e para seu bem -, pare de se descabelar enquanto busca maneiras de reduzir as chances de ele se embrenhar com outra. A única coisa que você, em minha opinião, pode fazer para minimizar um pouco os riscos de traição é ser uma namorada legal (não confunda com passiva, por favor); mesmo assim, porém, não terá garantia alguma de que ele manterá a palavra e não dormirá com outra. Aceite que dói menos. Ligar de cinco em cinco minutos, impedi-lo de sair sem você e outras atitudes demasiadamente controladoras não ajudarão em nada. Pelo contrário: só tornarão a relação mais pesada e asfixiante. O lance é o seguinte: faça o melhor que pode à relação e, se um chifre por acaso acontecer, tenha ciência de que a culpa não foi sua – e sim da canalhice do seu namorado. Não depende só de você, lembra? E por mais descontente que ele possa estar com a relação, sempre há a opção de terminar antes de trair, correto?
Quando algo não sai de acordo com as nossas expectativas – que comumente são maiores do que a nossa capacidade -, tendemos a olhar somente para as ações que poderíamos ter feito diferente, como se o controle da situação que deu errado estivesse totalmente a nosso alcance. Em alguns casos, realmente pode estar, só depender de nós e blábláblá; em vários outros, contudo, para que a coisa saia como espera não basta apenas um esforço maior da nossa parte: às vezes depende de uma soma de variáveis sobre as quais não temos a mínima influência.
Pode parecer cruel, mas a realidade é um só: às vezes a vida é dura mesmo, e de nada adiantará tentar lutar contra isso. Por mais que os comercias e livros de autoajuda vivam a nos dizer que nada é impossível e podemos tudo aquilo que desejamos, não podemos nos deixar enganar pelo falso controle que tentam nos vender justamente porque sabem o quanto sofremos sempre que nos flagramos diante do que não depende de nós – e nunca dependerá.
Infelizmente a existência não é tão controlável como uma televisão dessas modernas: não há um botão para ajustar o brilho de alguém ou volume da saudade que sentimos. Não tem como diminuir o contraste entre o memorável e aquilo que, por nada – nem pelo efeito da pinga – conseguimos nos esquecer. Existem algumas coisas que pode fazer para melhorar a imagem que vê e, consequentemente, deixar as coisas mais nítidas, porém, sempre há o risco de uma tempestade chegar do nada e, de uma só vez, no ponto algo de uma cena deliciosa, fazer com que perca o sinal.
Responda de maneira mais racional possível: o que está realmente ao seu alcance? E quando notar – e aceitar! – sua pequenez e os poucos poderes que tem seus esforços finalmente serão direcionados àquelas coisas que realmente pode moldar – e não mais à atitude do outro e a coisas que não dependem do nosso “eu prometo que vai dar certo”.
Faça o que pode – somente isso – e, se puder, transforme o inevitável em piada de bar. Pois não há nada melhor do que zombar da sua insignificância.