Tempo é algo absurdamente relativo. Uma hora parado no trânsito não passa na mesma “velocidade” que uma hora sentado numa mesa de bar jogando conversa fora com os amigos. Quando extrapolamos esse conceito para os relacionamentos podemos assumir que tempo, definitivamente, não é um fator determinante (ou não deveria ser) para se tomar decisões a dois. Você não fica em uma relação porque ela já perdura há 12 anos. Você fica porque gosta, se sente bem e encontrou abrigo por ali. O ponto crucial é que você pode estar ao lado de alguém há anos a fio e ainda assim nunca chegar a conhecer essa pessoa de verdade. A situação faz a pessoa, os segundos não.
Claro que a tendência é que a gente vá descobrindo um pouquinho a cada dia uma nuance diferente da pessoa que escolhemos para dividir a caminhada. Mas, tudo, tudo mesmo, nem o indivíduo em questão deve saber. Por mais que da boca para fora nós sejamos lindos, corretos, sensatos e passamos fio dental após todas as refeições, na prática a coisa é completamente distinta. A gente consegue sim presumir devido a vários fatores qual seria a reação de fulano em uma dada circunstância. Agora certeza concreta, só vivendo e vendo com os próprios olhos.
Vocês eram amigos antes de namorar e ele (a) resolveu te trair?! Bem, o respeito pela história dos dois terminou no instante em que o outro decidiu pular a cerca. São 20 anos de namoro, mas desse total em cinco você foi de fato feliz, então não é amor é comodismo. Ou ainda, vocês ostentam aquele relacionamento de novela sem brigas, discussões ou aborrecimentos e do nada depois de 3 anos vocês se desentendem e falam mais do que deviam. A culpa não é nossa por criar expectativas naturais, muito menos do outro por sem quem ele é, o que é direito dele inclusive. O problema é se esquecer que independente de qualquer coisa as pessoas são passíveis de erros muitas vezes graves e é preciso saber aceitar essa realidade caso um dia ela se apresente.
Se apegar ao tempo é uma péssima ideia se tratando de amor. A parceria tem que ser gostosa todos os dias ou na grande maioria deles. Viver preso à uma condição de infelicidade baseado no quanto as coisas já foram legais no passado é tortura pesada. Muito provavelmente porque os vínculos jamais voltarão a ser como imaginávamos na nossa cabeça, uma vez que já houve uma quebra de confiança e expectativa. O mundo a dois não acaba quando rola uma pisada de bola, pelo contrário, é a melhor chance que temos de amadurecer como casal. A conversa desanda quando existe todo um contexto que ficou insustentável ou quando a falha atinge o limite do aceitável e mesmo assim permanecemos passivos, pura e simplesmente devido ao tempo de casa.
A máxima do amor é a sorte. Conheço casais que se casaram após seis meses de namoro que hoje são infinitamente mais realizados do que muitos que esperaram décadas com a justificativa de que precisavam conhecer mais do outro. Não existe uma regra matemática perfeita que prove a relação entre tempo e felicidade. A pessoa pode te entregar corpo e alma de bandeja ou guardar o melhor (quem sabe, o pior) para o final. É necessário coragem para embarcar nesta jornada e discernimento para saber a hora de sair. Antes só por uma vida inteira ocupando todo o reflexo no espelho, do que só escondida sob a sombra de alguém. O tempo passa, a mágoa passa, o amor passa. As oportunidades ficam. Irremediavelmente, elas ficam.