Confesso que eu acho fascinante essa atmosfera de esperança que paira sobre as viradas de ano. É como se tudo fosse magicamente possível, palpável, realizável, como se a felicidade estivesse subitamente ao alcance de nossas mãos. Quanto mais o final dos anos se aproxima, mais as pessoas enchem seus corações de uma pureza única, de um brilho nos olhos até então perdido e de expectativas incomensuráveis que acabam regendo o início do novo ciclo que se aproxima. O problema é o dia 01 de janeiro. O problema somos nós que depositamos todas as nossas certezas na mudança de apenas um dígito. O problema é criar falsas saídas para um modo de vida falido.
Existe uma premissa que nunca perde a razão: tenha uma vida da qual você não precise fugir. Nem por um segundo, nem por uma virada de década. Acontece que estamos tão acostumados com tudo seguindo seu ritmo sempre igual, trabalhos enfadonhos, rotinas nada prazerosas, contas e mais contas para enraizar as nossas frustrações que perdemos a motivação para fazer diferente. O resultado são dezembros sempre carregados, empurrados, cansativos e, claro, otimistas para que os doze meses seguintes sejam melhores.
O difícil de entender é que nada, absolutamente nada, se sustenta à base de expectativas. É preciso agir amigos. Colocar os pés na estrada, a boca no trombone, o coração para jogo. Porque viver com qualidade e de maneira saudável depende tão somente de uma série de recomeços diários que nos aproximam pouco a pouco daquilo que desejamos conquistar. Nada vem de graça. Muito fácil e prático brindar a um ano promissor, pular sete ondas em busca daquele amor perdido e comer um banquete místico para atrair a sorte, o acaso ou os bons ventos. Pronto, trabalho feito agora é só esperar a doçura dos frutos. Felicidade é 10% destino e 90% merecimento. O universo te dá as rédeas, mas se você não sair do lugar, infelizmente, o cavalo só vai conhecer aquele pasto limitado.
A mudança precisa ser interna, ousada e real. E acima de tudo, é essencial que ela esteja completamente desvinculada de quaisquer eventos grandiosos. Nada de esperar pelo aniversário, pela troca do ciclo lunar, pelo término do inferno astral, pelas férias, muito menos pela virada do ano. Caso contrário, ficamos condicionados a uma data específica e assim que nos distanciamos dela perdemos inteiramente o foco da história. Bem aquela coisa de esperar pela segunda-feira para entrar na academia, chega na sexta e já abandonamos o barco pela primeira coxinha que atravessa o nosso happy-hour. Dia de ser feliz é todo dia, não tem dessa de esperar pela festa de 30 anos.
Já passou da hora de acordar, de sair do marasmo, de desapegar desses discursos fajutos de final de ano e realmente fazer acontecer. A todo e qualquer momento. O mundo não muda se você não muda. Sim, eu sei que você sabe, mas o quanto disso você está colocando em prática? Sábio Lulu já dizia atemporal: “não há tempo que volte amor, vamos viver tudo que há pra viver”. O amanhã é feito de oportunidades que hoje foram consumidas ou renunciadas. O limite entre o que você vive e o que você pode viver mora dentro da sua zona de conforto. Que 2017 seja somente a soma de boas escolhas e que até os tropeços sirvam para impulsionar. Que a gente escolha ser feliz diariamente apesar dos pesares, dos andares, dos lugares. Porque “hoje o tempo voa amor, (…) vamos nos permitir”.