Recentemente, uma colunista do meu blog publicou um texto sobre uma visão bem direta sobre relacionamentos. No artigo em questão, ela defendia um ponto que defendo piamente: mesmo num relacionamento, você não deixa de sentir tesão por outras pessoas.
O texto foi atacado de uma maneira que nunca vi antes e, pensando no lado de lá, tentei esmiuçar por que um texto desse gerava revolta.
Pensando aqui com meus botões, acho que grande parte da indignação vem do fato da gente não entender certas coisas. Eu, por exemplo, acredito piamente que a gente não deixa de sentir atração por outras pessoas. Quando alguém entra na vida da gente, o mundo não se desliga. O mundo continua. É bem natural que você continue achando alguém bonito ou atraente, até aí tudo bem. Um relacionamento não acontece porque todas as outras pessoas do mundo perderam a atração, mas porque você escolheu estabelecer compromisso com a pessoa que te interessa no mundo.
Ter a consciência de que é o compromisso que cria o relacionamento – no caso da monogamia, é claro -, é o primeiro passo para ter um relacionamento que liberte, não que aprisione. Talvez a nossa visão do amor romântico não nos deixe perceber a naturalidade dessas coisas todas. Essa coisa de entender que é ok achar alguém bonito, achar alguém gostoso, ter sonhos sexuais com atores de Hollywood, com atores pornôs ou com pessoas próximas. O que importa, na verdade, é como a gente escolhe materializar esses sentimentos e sensações.
Uma famosa frase do cinema, do filme Closer, diz exatamente o contexto da discussão: “Existe um momento, existe sempre um momento, ‘Eu posso fazer isso, eu posso me render a isso, ou eu posso resistir’”. E existe. Existe o momento em que você decide se o seu compromisso e o seu amor por alguém é menor do que as sensações que a sua mente cria. E ir adiante nisso – no que a gente chama de traição -, já é um outro papo que envolve julgamentos morais e o caráter de quem faz as escolhas.
Acredito que a ideia da culpa é o que nos faz negar a todo momento que a atração, o tesão e outras coisas existam ao nosso redor. Em vez de admitirmos isso e trabalharmos com a honestidade nos relacionamentos, preferimos fingir que nada disso acontece. E, por fim, conviver com uma culpa que, se for mal explicada, pode fazer ruir ótimos relacionamentos que só não tiveram clareza suficiente para entender o que estava acontecendo.