• Para de dizer que não foi amor
  • Para de dizer que não foi amor


    Tu vira pra tua amiga do rolê e diz pra ela que já esqueceu. Sente nada. Saudades foram na mala com ele. Tu nem se importa mais com ele.

    Tu vira pro teu amigo no barzinho e diz que já nem guarda mais a foto dela na tua carteira. Que já tá pronto pra outro e mal pode esperar pra conhecer outra guria. Tu nem lembra do cheiro dela.

    Tu lembra, sim. E não tem problema nenhum em lembrar disso.

    Tem muito amor que passou pela vida da gente e foi bom, foi memorável, deixou saudades, deixou um sentimento terno no peito. Afinal de contas, tu dividiu tua vida com alguém por um período de tempo em que vocês compartilharam e construíram juntos muita coisa. Construíram hábitos e aprenderam a ler as manias do outro, construíram memórias afetivas baseadas em restaurantes, em filmes, em museus, em pracinhas, em blocos de carnaval, até no número do delivery de pizza. 

    Tem amor que acabou e nem por isso deixou de ser amor. Admitir isso não vai fazer com que teu próximo amor seja mais fraco, ou não tenha paz, ou viva às sombras desse amor que já passou. Admitir que tu teve uma relação boa e saudável, uma relação que te deixou lembranças gostosas com uma pessoa que tu ainda acha incrível e gente boa, não significa que você é mal resolvido e quer voltar. Só significa quefoi bom enquanto durou e durou enquanto tava sendo bom, mas acabou”. Tu sabe que foi amor porque tu consegue ver nele ou nela o quanto você foi feliz quando tinha que ser.

    Tem amor que tu cisma em dizer que foi paixão pra tentar amenizar as coisas. Mas tu sabe que não é bem assim. Paixão é fogo de palha, é a vontade irracional de pegar um avião pra visitar alguém de surpresa, é um zumbido insistente no ouvido. Amor tá mais pra bateria de escola de samba, um brado retumbante que estremece o chão e que, às vezes, não precisa ser impulsivo porque tu sabe que o carnaval não vai fugir de você. Pra quê fingir que não foi nada?

    Foi amor. Foi bonito. 

    Acabou sem “vivemos felizes para sempre”, mas com um “fomos felizes um dia, porra”.

    E não existe vergonha nenhuma em saber olhar pra trás, sorrir pra vida e pra quem fez parte dela e seguir em frente.

     daniel


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