Sim, as pessoas mudam. Faz parte do processo natural da vida que não sigamos os mesmos de ontem (ainda bem). A mesma coisa acontece com os sentimentos. Hoje a gente ama, amanhã nem tanto. Claro que as mudanças não são instantâneas, tudo são processos. Quando a metamorfose é na nossa estrutura isso é muito nítido, mas quando vem do outro parece repentino, inesperado, quase violento. Uma afronta às nossas convicções. Mas, doa a quem doer tudo é mutável. É preciso ver com outros olhos as prioridades da alma de quem caminha ao nosso lado.
Com toda a certeza não foi do nada. A gente só perdeu a reclusão da lagarta que trazia o prenúncio das boas novas. As notícias podem não ser as melhores para as nossas expectativas, só que seguramente transformações são sempre positivas por pelo menos um dos ângulos para quem se permite. O difícil é não se sentir “traído”, enganado, iludido ao nos vermos atrelados a uma situação que não era mais como antes. Se colocar no lugar de alguém exige muita maturidade, mas acima de tudo respeito. Não é porque não faz sentido para a nossa travessia que não seja essencial para a travessia do outro.
Muitas vezes a própria pessoa é pega de surpresa e quando assusta já se vê buscando outros caminhos. Não existem culpados, não existe essa de “eu fui o melhor namorado(a) do mundo não sei como isso aconteceu”. Vai saber se o que você tinha para oferecer era, de fato, o que ele precisava. Coração é terra que só a gente sabe pisar. Com sorte alguém acerta o passo, com sorte seguimos só. Aceitar esta realidade carregando um mundo de histórias para contar ao lado do outro é realmente dolorido, mas quando se chega a esse limite no relacionamento que não foi imposto por nós, infelizmente, só nos resta seguir em paz.
Ainda mais fundamental é não desmerecer aquilo que foi simplesmente porque findou, muito menos nutrir sentimentos negativos totalmente circunstanciais porque não conseguimos compreender completamente a dualidade da situação. Vocês seguiram juntos pelo tempo que foi prazeroso e enriquecedor para ambos, quando a troca deixou de ser bacana para um dos lados a ruptura se sucedeu. Na hora do turbilhão é difícil assimilar a grandeza de certos acasos afortunados. Só que pensa bem, agora ele pode buscar um abrigo onde realmente é feliz e você está livre para receber em sua morada alguém que inteiramente esteja procurando por tudo aquilo que você tem a oferecer.
O gostoso do amor é que ele cria permanências sem nenhum tipo de obrigatoriedade. Enquanto houver identificação dos momentos de cada um ele vai ficando. É realmente uma pena quando acaba, mas forçar o outro a se encaixar num molde que ele não cabe mais além de invasivo é desrespeitoso. Nós também em algum ponto já fomos a mudança de alguém (ou seremos) e gostaríamos de contar com um pouco de empatia. Essa talvez seja a grande questão da vida: amar sem egoísmos e parcialidades.
Não tenho muitas certezas consolidadas, uma das poucas que posso afirmar é que tudo pode mudar a qualquer instante. E está tudo bem. Independe do que fazemos, de quem somos e do quanto proporcionamos. É uma batalha que não é nossa e não exige a nossa interferência. Portanto, não julgar caminhos que não trilhamos. O que importa é que não estamos perdidos, ou seja, sempre existe a chance de sermos novamente encontrados. Timing, o nosso vilão e o nosso mocinho. Eu não preciso te amar mais amanhã de manhã e digo o mesmo para você. Mas, que sejamos gratos se ainda formos o primeiro e o último sorriso do outro quando o sol apontar na alvorada. Quer dizer que nos escolhemos mais uma vez, que sorte a nossa, mesmo que esse “mais uma vez” não se repita para sempre.