A geração das selfies, dos tebetês e do Sarahah. Com não está muito habituada a ouvir as pessoas. No máximo, esperamos o outro terminar de falar para, prontamente, emitirmos uma opinião (quando esperamos).
É claro que nós temos opiniões formadas sobre tudo.
E ai de quem não tenha.
“Em que planeta você vive?”
“Eu só não pensei nisso ainda…”
“Sim, mas no caso do Brasil é claro que a política interna blábláblá….”
Falamos, falamos, e não dizemos nada.
O falatório não tem por objetivo entregar uma mensagem a quem quer que seja, porque nem mesmo sabemos com quem estamos falando. Não interessa muito: falamos para sermos ouvidos pelos nossos egos.
Falamos de nossos filmes prediletos como se fossem obrigatórios para o outro. O amiguinho não existe se nunca ouviu nossas músicas. Bom gosto é só o que a gente gosta, o resto é lixo. E só ficamos realmente satisfeitos quando concordam com a gente.
Enquanto engordamos os egos como porcos, perdemos o melhor da brincadeira: o diálogo que constrói coisas, para nós, para o outro, para o mundo.
Raul disse muitas coisas importantes (que deus o tenha), e talvez uma das mais importantes seja “você sabe que a gente precisa entrar em contato/ com toda essa força contida que vive guardada/ o eco das suas palavras não repercutem em nada.”
Quando você aprende a ouvir o outro, você aprende a entrar em contato – não apenas com a sua própria força contida que vive guardada, mas com a força do outro, as ideias do outro, o olhar do outro.
Você entende que muitos pontos de vista diferentes dos seus podem também estar corretos, e ainda que estejam irremediavelmente errados, têm algo a somar aos seus próprios pontos de vista (ainda que seja apenas para confirma-los).
Você descobre, sobretudo, que cada ser humano é um universo complexo e lindo. Que sempre dá pra ir mais fundo em outra alma. E que o outro, assim como você, só precisa de pares de olhos e ouvidos atentos pra poder desabrochar.