• No final desse filme a gente morre
  • No final desse filme a gente morre


    E aquela briga de ontem a noite não vai ter tanta importância assim. Nem aquela crise de ciúmes boba, a cobrança desnecessária, muito menos o motivo insignificante que fez com que cada um virasse para o seu lado da cama na madrugada passada. Sozinho.
    Mas, aquela mensagem que você deixou de enviar apenas para se fazer de difícil, o beijo que a duras penas foi reprimido por mágoa antiga ou o “sim” que ficou engasgado por orgulho, esses sim vão pesar na bagagem. Se ainda não ficou claro, no final desse filme a gente morre. E se o amanhã não existir que arrependimento você leva na alma?

    Um bom dia que não foi dado por mau humor gratuito, um abraço que poderia ter se demorado mais do que breves segundos, um “eu te amo” que atravessou a garganta e se agarrou ao medo. Se o destino te dissesse que aquele encontro marcado com tanta distância não poderia acontecer pela triste ausência de uma das partes, você se anteciparia? Comeria o bolo, dançaria até os pés pedirem sossego mesmo que isso te custasse algumas horas de sono, atenderia a ligação do seu namorado(a) no meio da tarde ainda com a bronca de ontem?

    Aposto que você respondeu sim para a maioria destas perguntas. E aposto mais ainda que isso vai te fazer refletir por algumas horas, talvez dias. Mas, aí no próximo final de semana os velhos hábitos voltam todos outra vez. A mesma mania egocêntrica de achar que o relógio é nosso amigo e vai esperar pela nossa indecisão, nossa vontade, nosso temperamento explosivo. Somos tão arrogantes em acreditar que temos o controle de nossas vidas e do mundo que gira ao nosso redor que quando o tempo se esgota, quando o destino pontua que alguém que amamos muito só chega até ali, nos sentimos injustiçados, traídos, abandonados.

    Da janela aqui de cima eu vejo o dia lá fora e tá lindo, meus amigos, está absurdamente ensolarado. Pronto para ser vivido, abraçado, sentido até a última gota. E nós estamos como? Lamentando a falta de atitude do outro com o celular na mão, dizendo milhares de nãos para inúmeras oportunidades, trocando possibilidades reais de felicidade por vícios tecnológicos. Remorso, infelizmente, não é o suficiente para fazer os segundos voltarem ao passado. Acabou, acabou. Não tem volta essa corrida maluca que chamamos de vida. Ou a gente aceita que somos finitos, ou corremos o sério risco de derramar incontáveis lágrimas depois.

    Pior do que uma negativa momentânea é a eterna incerteza do que poderia ter sido. Mais doloroso do que engolir a raiva durante uma discussão estúpida e ceder ao beijo é nunca mais ter a chance de tocar aquela boca novamente. Ou escutar a voz, se inebriar com o perfume, se ver no brilho do olhar do outro. Algumas oportunidades, por mais banais que possam parecer, são únicas. Tudo é um sopro.

    Se você ainda tem a sorte de sentir a ventania desarrumando os seus cabelos sinta-se grato, muito grato, e permita-se desfrutar deste instante. E para qualquer convite de afeto: ame. Abrace, beije, se entregue, perdoe, peça desculpas, aceite a proposta, supere, passe por cima, alivie a sua alma. Só assim nada terá sido em vão. Só desta forma temos uma quase certeza de que se o teatro esvaziar ou se o filme perder-se no meio, ainda assim valeu a pena ter vivido este espetáculo.

    danielle-assinatura


    " Todos os nossos conteúdos do site Casal Sem Vergonha são protegidos por copyright, o que significa que nenhum texto pode ser usado sem a permissão expressa dos criadores do site, mesmo citando a fonte. "