Pessoas com a autoestima OK no século XXI são minha lenda urbana predileta.
Somos a geração que se auto destrói e, por haver muitos fóbicos entre nós, somos também bombardeados por rejeição antes mesmo de perdermos os dentes de leite, até o fim de nossas vidas.
O resultado é que precisamos, frequentemente, nos valermos sozinhos, o que significa descobrir meios de não surtar quando o mundo – perdoem-me a chula referência musical – anda hostil.
Descobrir novos talentos é uma boa maneira de não surtar, pensei, na última vez em que me dei conta de que descobrira um novo talento.
Comprei um violão. Não que eu soubesse tocar violão, é claro. Na minha cabeça, naquele momento, saber tocar violão não era necessariamente um requisito para comprar um violão.
Sempre gostei do cheiro, da fotografia, das cordas. Compraria o violão, e o resto que se resolvesse, se tivesse que ser.
Um mês depois, eu e o meu violão, íntimos amigos, compomos uma música juntos. Fiquei impressionada por ter conseguido compor uma música no violão sem saber absolutamente nada sobre música ou violão, ainda que a composição não fosse das melhores.
E ainda que eu só tivesse cinco músicas no repertório, alguém sem talento musical não conseguiria cinco músicas em um mês, pensei, e agarrei-me ao meu novo talento, que era uma nova e amada parte de mim.
Quando você descobre um talento, você descobre uma versão sua. Não é como um passatempo, simplesmente: algo de novo surge, de dentro, e isso te preenche para além de qualquer problema existencial.
Você descobre alguém que estava ali o tempo todo e você não era capaz de enxergar, como eu descobri a minha versão que compunha músicas – e amei-a.
A melhor versão de amar-se, me parece, é descobrir-se.