Somos todos hipócritas. Eu, você, a moça ao lado. Criamos uma realidade de acordo com o nosso mundo da imaginação, e convivemos com regras um tanto quanto sem sentido. A gente não vê. Como é difícil demais aceitar algumas verdades, escolhemos andar de venda. E tem vezes também que vemos tudo, mas fingimos que não vemos. Já nos acostumamos com a insanidade. Essa realidade foi retratada muito bem no filme, La Belle Vert, que conta a história de moradores de outro planeta que têm uma organização social e moral muito elevada e que, de tempos em tempos, vão para planetas menos desenvolvidos para oferecer ajuda. Pra eles, a Terra era o caso mais crítico; humanos eram considerados um caso perdido, principalmente depois da crucificação de um dos enviados. Alguns moradores vêm para cá e começam a questionar a loucura de vários de nossos valores e costumes. E a gente se lembra – através da visão emprestada da protagonista do filme – o quão absurdas são algumas regras, costumes e crenças da nossa sociedade.
Se, como no filme, fôssemos extraterrestres, com certeza haveria mais coisas as quais contestaríamos sobre a nossa sociedade. Eis algumas delas:
– Nossa, as pessoas andam quase peladas na praia e tudo bem? O que é aquilo que a mulher usa – biquíni? Tampa algumas micro-partes mas o resto do corpo está totalmente exposto? Qual a diferença entre isso e fazer topless? Por que topless é proibido – o que há de errado em mostrar um mamilo se todo o resto já está de fora?
– Eles ficam extremamente desconfortáveis para conversar sobre sexo, mas assistem à novela das oito com os filhos no sofá – aquela mesmo na qual não pode faltar traição, mentiras, cenas de pré-sexo?
– Eles criticam massivamente hábitos como fumar, mas se entopem de açúcar e conservantes e levam os filhos pra comer no Mc Donald’s nos fins de semana? Eles chamam quem fuma maconha de drogado mas levam vidas consumindo cerveja, vodka, whisky, fast food, rivotril?
– Eles se gabam de ter relacionamentos felizes e dizem que amam suas mulheres, mas a cada quinze dias dão uma passadinha no puteiro na hora do almoço?
– Eles criticam o poliamor e os relacionamentos abertos, mas traem sem peso na consciência?
– Eles se dizem modernos mas ainda gastam fortunas fazendo festas de casamento que duram 6 horas pra um monte de gente com quem eles muitas vezes nem se importam? Eles ainda seguem esse hábito de seus avós?
– Eles vão à Igreja todo domingo, mas na segunda-feira fazem fofoca no trabalho e fingem que não vêem a criança sentada na calçada pedindo uma coisa pra comer? Eles falam em amor mas só pensam mesmo em dinheiro?
– Eles estudam algo do qual não gostam, trabalham em empregos que não os deixam felizes, compram coisas das quais não precisam? Se a missão de todo mundo é sobreviver, por que eles gastam horas dos seus preciosos dias fazendo algo do qual não gostam? Eles se encaixam em profissões pré-estabelecidas (e se tornam peças completamente substituíveis par enriquecer outra pessoa), se casam, têm filhos, seguem a moda, assistem novela, compram porque gostaram do anúncio e, ainda sim, se consideram livres?
– Ela reclama que não acha um parceiro pra vida, mas só expõe o que tem do lado de fora? Ela mostra pra quem quiser ver que o que tem de melhor para oferecer é sua aparência e depois espera que os outros queiram muito mais do que somente o corpo dela?
– Eles constroem perfis nas redes sociais que faz com que eles pareçam super felizes e descolados mas, na realidade, a vida real deles é um caos?
– Eles reclamam da realidade mas não fazem nada pra mudar?
– Eles acham um absurdo falar de sexo e pouca vergonha dois homens se beijando no metrô, mas quando chega o Carnaval todos vestem suas máscaras de liberais e saem semi-pelados como se lidassem muito bem com sexualidade?
Alguém aí tem as respostas? Caso tenham, aguardo ansiosamente por elas nos comentários.
ps: Se você se interessou pelo filme La Belle Vert, ele se encontra legendado na íntegra no Youtube.