• Eu Te Amo Tipo Como?
  • Eu Te Amo Tipo Como?


    por Francine Micheli
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    Dia desses li uma crônica da Martha Medeiros que me deu um pouco de aflição. No texto, ela lamentava o fato de as pessoas não falarem mais de amor umas com as outras, os casais não dizerem ‘eu te amo’ como era antigamente e pedia que nós, ‘meninos e meninas’, falássemos mais as três palavrinhas mágicas. A aflição veio porque achei esse discurso dela, além de desnecessário, bastante perigoso. A Martha escreve como ninguém e eu tenho todos os livros dela, mas na minha humilde opinião ela está equivocada.
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    Por que deveríamos falar mais ‘eu te amo’ se não sabemos ao certo o que é isso e vivemos errando o alvo da coisa? Por que deveríamos sair por aí dizendo que amamos sendo que muitas vezes esse sentimentão todo se resume a uma simples vontade de dar ou de comer alguém? Qual a razão de considerar amor a sua necessidade de ganhar um abraço, de trocar umas palavras inteligentes, de se sentir importante?
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    E aí que cruzamos vidas e mais vidas despretensiosamente e ficamos doidos pra sermos protagonistas, mas o que no sobra às vezes é só uma participação especial ou a figuração, papel que ninguém quer desempenhar na vida de ninguém. Sonhamos todo santo dia viver relações Ramones, intensas, alucinadas, feitas pra perder a cabeça e te fazer sentir como se toda a vida coubesse em três minutos de duração. Os Ramones não tinham partitura, tocavam tudo energicamente na base da intuição e berravam uma paulada atrás da outra. Mas as músicas duram isso. Não mais que três minutos.
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    Antes de dizer que ama, considere a hipótese de que a relação pode ser Miles Davis, construída parte por parte, com a hora do tema e a hora do improviso, bem costurada, pensada e com uma dinâmica absolutamente racional, sem por isso deixar de ser intensa. A vantagem do jazz, nesse caso, é que dura mais, bem mais do que um punk rock e pode causar arrepios bem mais constantes. Tanta racionalidade chega a atingir o ápice do sentimentalismo. Daí, se ao final da partitura inteira ainda tiver sobrado paciência e admiração, pode soltar umas palmas e  um eu-te-amo. Aos ouvidos do outro, vai soar como música. Aos ouvidos do resto do mundo, uma verdade entre tantos equívocos.
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