• A Ironia do Maior  Tabu Sexual de Todos os Tempos
  • A Ironia do Maior


    Tabu Sexual de Todos os Tempos


    Que sexo verbal não faz o estilo do Renato Russo eu sei, você sabe, seu parceiro sexual sabe e seus pais também. Se bobear, até a sua avó sabe. Afinal, nosso querido e finado cantor fez questão de espalhar aos sete ventos uma de suas hipotéticas preferências entre quatro paredes. Cá entre nós, eu poderia muito bem morrer sem saber disso – afinal, por questões de incompatibilidade, eu jamais teria chances com o Renato. Mas esse verso levanta uma questão muito pertinente aos tempos atuais: será que o seu parceiro sabe qual tipo de sexo faz o seu estilo?

    Sutiãs foram queimados, a pílula anticoncepcional se popularizou, Hugh Hefner criou a Playboy, Woodstock levantou a bandeira do sexo livre. Inúmeros episódios sexuais progressistas marcaram o mundo, mas confessar fetiches e preferências sexuais ainda soa pecaminoso. Até a Dercy Gonçalves morreu, mas o medo de parecer vulgar ou ridículo quando se fala abertamente sobre sexo ainda vive. E – espero estar errada – é um monstro que nos assombrará por mais alguns anos. Quem iria imaginar que o sexo verbal, ainda nos dias de hoje, continuaria sendo um dos maiores tabus sexuais.

    O cultivo desse fantasma tem raízes na infância, quando toda criança faz a fatídica pergunta aos pais: “de onde eu vim?”. A resposta, geralmente, gira em torno da lenda da cegonha ou da história da melancia. Dizer que mamãe engoliu uma sementinha de melancia ou que a cegonha veio trazer uma encomenda é deveras fofo, mas contribui para perpetuar o tabu de falar sobre esse tal de sexo and rola – essa coisa estranha que todo mundo faz, gosta, lambe os beiços e faz de novo, mas se reprime na hora de ter uma conversa franca a respeito.

    O grande problema de evitar falar sobre sexo é que isso traz implicações gravíssimas ao próprio ato sexual e – ouso ir adiante – à harmonia que faz esse mundão rodar. Todo mundo já teve, pelo menos uma vez na vida, aquela professora mal humorada e casca grossa, a quem os menos generosos costumavam chamar de “mal comida”. Afinal, quem é ela, senão vítima desse tabu sustentado pelo tradicionalismo e pelo sonho de um mundo povoado por mulheres submissas e puras?

    Hoje, no auge dos meus vinte e tantos anos, me pego imaginando a vida sexual da Tia Norma, aquela professora da quinta série que nunca deve ter gozado na vida – provavelmente, porque sempre julgou ridícula a ideia de compartilhar com o parceiro suas preferências sexuais. Que nunca disse que gosta de ficar de quatro com as pernas fechadinhas, porque sente o pau duro cutucar-lhe o útero. Que nunca assumiu o quanto adora sentir na boca a acidez do primeiro gozo do dia. Que jamais revelou o quão excitada fica quando escuta meia dúzia de palavras sujas ao pé do ouvido. E – por que não? – que nem sequer cogitou falar que curte um sexo escatológico, com direito a chuva negra, de prata, de ouro e de tudo o mais que se possa imaginar.

    Calar-se quando o assunto é sexo pode significar um desperdício de orgasmos. E é um desperdício tão doloroso quanto ver a imprudência da sua mãe ao lavar a louça com a torneira aberta em pleno século vinte e um. Por isso, meus caros, falem. Afinal, quem tem boca fala, beija, pratica sexo oral e, se sobrar um tempinho, vai a Roma. E para as mulheres, deixo uma dica final: na terra de onde eu venho, os homens têm duas bolas, mas, infelizmente, nenhuma delas é de cristal.


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