• Metendo o Pau no Cu Doce
  • Metendo o Pau no Cu Doce


    E assim, meio que despretensiosamente, Deus criou o cu – aquele orificiozinho que, em seu sentido original, representa a saída do labirinto, o abraço de despedida, a porta de libertação de quase tudo o que nos entra pela boca. Aí veio o homem e, num dia de invencionices gastronômicas, resolveu comê-lo. Achou meio sem gosto aquele negocinho feio. Pôs sal para ver se tinha graça, mas ardeu… Aí, decidiu colocar açúcar. Como se não bastasse, caprichou na cobertura de mel. Pronto: fez-se o cu doce, desgraça que assola os corações apaixonados e os corpos excitados desde os tempos mais remotos.

    Não que o açúcar seja dispensável – muito pelo contrário. Vai bem no cafezinho, no suco de limão, no iogurte integral… Vai bem até no ser humano – afinal, o que é o gozo senão papinha de espermatozóides adoçada com frutose? A doçura é uma das maiores e mais raras virtudes nos dias de hoje. Aposto a minha virgindade que você, caro leitor, jamais imaginaria que eu sou uma das pessoas mais doces do meu círculo de convivência. Isso porque eu sou doce, mas não faço doce. E há uma diferença brutal entre esse dois termos.

    A tão popular e disseminada ideia de que ser difícil é sinônimo de se valorizar está dificultando cada vez mais os jogos amorosos. A conquista, que originalmente tinha a leveza de uma pelada de domingo, – aquele ar divertido e especial, aquele friozinho na barriga para saber quando ela cederia e, enfim, a comemoração extasiada e compartilhada da vitória – virou espetáculo de gladiação para uma torcida que não quer gritar gol, mas, sim, ver corações partidos e tristes depois de esgotadas todas as tentativas. Cada vez mais, “love is a losing game”, como bem pontuou e eternizou Amy Winehouse.

    Negar quando não se quer é absolutamente normal, e é o que eu mais faço nessa vida – em primeiro lugar, porque disponho de uma peneira que filtra pedregulhos e bagulhos; em segundo, porque mamãe não me achou na lata do lixo. O que eu condeno mortalmente é a (falta de) atitude de negar por charme, enquanto o desejo pulsa lá dentro e queima lá embaixo. Lutar contra o desejo dá câncer, e pagar de bonequinha de luxo não é garantia de nada – afinal, ela pode ser a porcelana mais linda do mundo, mas quem realmente satisfaz no universo dos brinquedos é a boneca inflável.

    Portanto, se você insiste em encarar o jogo da sedução como uma partida de damas, em que a dama, quando sobe no salto, sai massacrando e descartando as peças do tabuleiro como se fossem meros montes de merda, não se esqueça: ao final da partida, a dama está soberana, porém, merecidamente sozinha.

    E assim eu sigo pela estrada afora: metendo o pau no cu doce.


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