Socorro! Todo mês, a página do meu perfil no Facebook é espetada por cutucões de desconhecidos. Sempre achei essa abordagem meio esquisita. Imagino que, se a proposta atravessar a fronteira, posso me surpreender com o dedo duro de um estranho se intrometendo no meu ombro, no meio da rua.
O que uma cutucada virtual quer dizer? Uma piscadinha? Que alguém gosta de mim? Que me odeia? Que zomba de mim? É tipo um homem fermentando o peitoral pra ser notado por uma garota? Ou só uma paquera despretensiosa, que deixa claro que sou mais uma, apenas mais uma, de muitas outras mulheres cutucáveis? Cutucar é flerte, então?
Essa questão estrangula a minha tranquilidade. Não a entendo e, entendo menos ainda, quem se aproveita dela pra ter sucesso. São tímidos ou forasteiros da timeline, desesperados por uma oportunidade de mostrar que são caras bacanas, tão adicionáveis quanto você? Talvez apenas viciados um dar uma cutucadinha, uma nova espécie de tarado virtual, os serial cutucadores.
Eu sempre gostei de iniciativas verbais. Uma vez, resolvi namorar. Enchi uma fita K7 com a mesma música e dei de presente pra um garoto. Eram tempos que pediam atitude mais físicas, por causa da situação tecnológica. Para retribuir a iniciativa, ele discou o número da minha casa – a popularização do celular só viria no ano seguinte – e meu pai atendeu. A voz dele enfrentou a do meu pai, ocultando gagueira e insegurança, e o garoto pediu pra falar comigo. Por isso enlouqueço, quando alguém com dedos capazes de, pelo menos digitar um email, me cutucam no facebook em vez de dizer olá.
Há um mês, quatro cutucadas de estranhos moram no canto direito da página do meu perfil e ali descansarão até que seus cutucadores retirem as intenções indefinidas. Se depender de mim, as próprias pancadinhas virtuais se enjoam da espera e se desintegram de vergonha.
Eu deveria cutucar de volta? É como agradecer um elogio? Sou arrogante e ingrata por nunca ter retribuído o cutucão de um estranho? Não consigo. Seria como dar bola pra gente encapuzada e muda no metrô.
Uma vez, uma única vez, cedi. Por remorso. Estava me sentindo um pouco grosseira em relação aos cortejos virtuais. Cutuquei de volta. E a tréplica foi outro cutucão, que eu devolvi. E assim seguimos por semanas. Cutuquei, cutuquei até o infinito. Ele resolveu me escrever um email. Os erros de português do rapaz justificavam a opção de abordagem. Implorei com simpatias que voltasse a me cutucar.
Atormentada por pancadas e golpes e batidinhas e choques e reladinhas e baques virtuais, conheci alguém que flutuava no mundo real. Sujeito difícil de agarrar. Ele gostava de espremer as mãos no meu cabelo e rasgar o gelinho da cerveja que se forma na garrafa. Perpetuava, de um jeito canalha, nossos nomes com o dedo na parede, evaporávamos em seguida. Esperei dias para que o interesse dele se oficializasse, por meio de uma cutucadinha virtual. Eu pensava que se desconhecidos brigavam por um pedaço do meu perfil, ele também brigaria. O sentido dessa abordagem, confusa pra mim, teria seu foco finalmente ajustado, assim que o cutucão dele estalasse na minha tela.
Sujeito difícil de agarrar. Flutuou pra outros perfis sem que me explicasse o sentido de uma cutucada no facebook. Sem que eu a experimentasse com faíscas.