Que tem uma coisa entupindo a minha garganta e não é pentelho, nem catarro, nem a tampinha de uma caneta Bic. Que existe essa mania de não ejacular verdades porque ai-meu-Deus-o-que-vão-falar-de-mim. Que se deixa de fazer muita bobagem e sacanagem por medo de ser incompreendido.
Você também se pergunta quantas risadas canalhas vai arrancar toda vez que usar aquele top que atira os seus peitos pra fora e que faz você se sentir mais sexy do que periguete? Ou também fica com vergonha de perguntar quem é Luiza, que música é Luiza, que canta a Luiza? Ou também deixa de dizer que falta autoestima pra sua amiga toda vez que ela rala o joelho de humilhação pelo mesmo cara?
Você prefere vestir uma camisinha sabor em-cima-do-muro a se arriscar?
Que eu acho incrível ser desencanado desde pequeno. Que tem gente que sai na rua de guarda-chuva, para que o sol não esfole a pele, sem valorizar julgamentos. Que eu adoro caras que contornam os olhos com lápis preto e senhorinhas que namoram depois de enviuvar.
Que me arrependo de só ter dado chance pras preliminares, com o tempo você entende onde encostar, pra coisa fazer efeito. Entende por que gosta de tomar café e passar a noite de sexta-feira lendo e grifando frases de um livro pra numa conversa de bar punhetar tudo o que achou, quando a maioria das pessoas vai dançar e beber e não se lembrar da mesma sexta-feira no dia seguinte. Porque a maioria prefere papai e mamãe. Mas você não precisa ser um espermatozóide igual a todos os outros com tesão pelo mesmo óvulo. Você pode ter identidade e desviar um pouco o caminho pra sentir a felicidade que há em cobiçar o chão da cozinha ou chupar um sorvete de pistache.
Que depois você relaxa. É melhor do que cigarro. Do que dormir. Do que tuitar um furo jornalístico ou uma frase espirituosa ou um comentário pertinente. É como arrancar o biquini dentro do mar e deixar que peixes te acariciem debaixo da água, enquanto você boia livre de âncoras repressoras. Mas também é quando você tem de estar mais forte pra sustentar quem você vai ser daqui pra frente, porque os escudos caem. Você se expõe. Você está nu com uma platéia te enquadrando, à espera de uma frase para te atirarem tomates ou flores.
Que você não pode amolecer. O peso da crítica é como mil corpos te estuprando por trás. Ser você mesmo é dar aquela esfregadinha na cara dos outros. A agachadinha sóbria em cima da mesa de uma festa. Não é pra covardes. Sempre vai ter alguém arranhando um “X” vermelho bem grosso e latejante na sua cara. Sempre vai ter alguém discutindo sobre a sua calcinha ou a cor do esmalte que você escolheu ou sobre o caminho que você deveria ter tomado no dia mais difícil da sua vida.
Você segura ou solta?
E depois disso, mudar de opinião, assim que a noite vira. Assim que você dá enter. Eu gosto de bagunçar tudo e encaixar de novo, sem vaselina e sem regras. Mesmo que não faça sentido. Precisa ter sentido? Precisa sentir. Ter opinião, jeito, atitude é sobre ser forte e não coerente. É saber que um ponto final não significa somente o fim. Não significa um respiro. Não é nem um intervalo entre um gozo e outro. É só um pedaço de carne mastigadinha na sua boca pra facilitar a digestão. Eu prefiro espaços em branco.