Regrets and mistakes, they’re memories made… é um verso de uma balada triste, composta e cantada lindamente pela Adele. A música tocou no rádio de alguém, a voz poderosa da inglesa atravessou as janelas e corredores do prédio até chegar no meu quarto, onde me encontrou deitada, abraçada com um travesseiro, enquanto a manhã ainda se descobria pelo sol que chegava de mansinho. Um novo dia se anunciava a despeito das vontades humanas. A frase da canção Someone Like You me fez pensar em algumas coisas sobre mim mesma e me manteve na cama por mais tempo.

Desconfio de quem bate no peito para dizer que não tem arrependimentos nessa vida, e acho a palavra mal interpretada e mal vista, sempre soando como fraqueza aos ouvidos mais superficiais. Arrependimento é a mudança de mentalidade advinda da dor sentida pela dor causada. Somos impelidos a fazer escolhas o tempo inteiro, a tomar decisões em segundos, a lidar com diferentes graus de emoção, nossa e as alheias. O barco balança e o capitão tem que decidir qual ordem será dada, uma tremenda responsabilidade sobre o destino.

Não dá para acertar em 100% das jogadas que fazemos, andar sempre na linha imaginária de um quadrado perfeito. Às vezes, nos arrependemos por falar demais ou por falar de menos, por acreditar em algo ou em alguém, por agir ou se omitir, por dar um passo que antes parecia tão certo, por não dar ouvidos a alguém, por demonstrar (ou não) sentimentos…

Os motivos podem ser inúmeros e ter diferentes graduações. A parada é dura e é impossível sair imaculado da prática do viver. Como na máxima da Medicina, a prioridade deve ser a de não causar danos, mas os efeitos colaterais das ações não são descritos em nenhuma bula. Um arrependimento traz consigo uma lição, ainda que encoberta num primeiro momento, e é só atráves desse aprendizado amargo que a gente corrige as rotas e aprende a apreciar o doce da vida. Sou feita das minhas escolhas, mas não posso afirmar que gosto/gostarei de todas elas durante todo o tempo em que minha vida durar. Muitas vezes, o amargo demorou para sair da minha boca, porém já experimentei as coisas mais doces que vieram de decisões e atos meus e muitas delas ainda adoçam a minha existência, deixam a minha alma num belo vestido de gala, e são parte da minha história.

Já diz o ditado que quem se arrepende, aprende e se renova. Arrependimento é um passo adiante, um gesto de reconhecimento da nossa inerente falibilidade como seres humanos, é a nossa placa de “estou em construção”.

corina


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