Garoto, você tem que ir. Não é nada pessoal. Bem, na verdade é. Mas é comigo. Não há nada de errado em você. Mas eu não costumo passar uma noite inteira com alguém. Tenho insônia diante da cama dividida. Por favor, me entenda. Você transa maravilhosamente. Sei que estamos nessa há umas três semanas e eu até agora não respondi romanticamente nenhum de seus SMS. Mas eu não quero me envolver além do corpo, sabe?
Não é para dormirmos de conchinha. Não quero dividir casquinhas de sorvete, presentes comuns ou travesseiros. Não é para eu conhecer a sua mãe e ouvi-la dizer todas as coisas que você gosta e ver as suas fotos de infância na qual você dançava quadrilha de chapéu e bigode pintado. Não quero conhecer o seu pai e vê-lo te olhar com cara de aprovação pelo “belo trabalho”. Não quero que você conheça a minha família, também. Eles te perturbarão com mil perguntas que tenho certeza que não está disposto a respondê-las. Então, pegue tuas coisas na sala e durma em sua casa, por favor.
Qualquer dia eu te ligo e a gente se vê para fazer alguma coisa carnal.
Nada de cinemas, teatros, passeios no shopping ou coisas assim. Andar de mãos dadas me sufoca como apertar diretamente a minha jugular. Relacionamentos cada vez mais acabam cedo. E o que restará para mim é um coração machucado e tuas camisas em meu armário. Não quero, sabe? Não quero ter que saber se você esta me traindo ou não. Se seus amigos gostam de mim ou não. Não quero ter uma música romântica que cisma em tocar em qualquer lugar e eu me alegre por lembrar de você. Não quero encontrar fios do teu cabelo em meu travesseiro e sorrir como uma boba. Não quero encontros no meio do dia que me deixarão com seu perfume impregnado em mim durante o dia todo. Não quero beijos naquele museu interessante porque eu quero poder ir lá sozinha e não lembrar de você. Não quero sentir saudades quando você se atrasar para chegar em casa.
Não quero andar no teu carro e ver você colocar a mão na minha coxa esquerda enquanto dirige e isso me parecer o cinto de segurança mais perfeito do mundo. Não quero chorar quando for se cansar de mim de ir embora. Não quero canecas, nem chás. Não quero que você venha cuidar de mim quando estou gripada. Nem que venha com milhões de piadas e me fazer brilhar os olhos quando eu estiver menstruada. Não quero fotos, cartões, chocolates. Nada disso. Nosso mundo é este colchão aqui e só. Portas abertas e corações fechados.
Segue teus dias, que sigo os meus. A gente se vê. Ou não.