Tenho postado contos eróticos do meu novo livro e o resultado tem me surpreendido. Mais do que isso: tem me feito refletir bastante. Explico: diferente dos contos sem sexo, os “safadônicos” quase não são compartilhados e recebem pouquíssimas interações. No entanto, ao analisar o número de visualizações dos textos adultos, notei que estão sendo lidos mais vezes do que os sem trepadas e lambidas íntimas. Curioso, né? Eu acho. E acho, também, que tal fenômeno só escancara a vergonha que muitas pessoas ainda têm de tornar público o que pensam/sentem acerca de algo tão natural e bonito. Em alguns casos, ainda, não se trata apenas de vergonha: é medo de serem julgadas por uma sociedade que, em pleno século XXI – e à beira do teletransporte -, infelizmente, continua tratando o tesão de maneira criminosa, transformando-o em vale-culpa, principalmente o sentido pelas mulheres e por pessoas com orientação diferente da que idiotas consideram correta – como se só os heterossexuais fossem normais, né?

As pessoas fazem sexo, leem sobre sexo, assistem a vídeos eróticos, pensem em sexo o tempo todo… Mas, na hora de expor, a coisa muda: têm receio do que pensarão, sentem-se cometendo um crime hediondo. Muitos leitores me mandam mensagem privada para confessar: “Coiro, amei o texto que postou. Mesmo. Só não compartilho porque minha mãe tem Facebook”. Àqueles, também, que me perguntam se não penso em minha família ao publicar textos calientes. A eles, então, costumo responder: tenho vergonha de estacionar em vaga de idoso, de ultrapassar pelo acostamento, de levar a pior cerveja do mundo no churrasco e só tomar das melhores… Saca? Não de falar sobre sexo!

Meu livro novo está cheio de trepada, de tudo quanto é jeito e posição. Por isso, tenho certeza de que algumas pessoas o acharão muito obsceno. Mas sexo é parte fundamental da vida, não é? É essencial à nossa existência, inclusive. Ou você ainda crê que veio ao mundo graças à cegonha? Então, por que tirá-lo dos meus contos que tentam, de alguma forma, captar os mais impactantes sentimentos desta vida fugaz? Já há tanta censura por aí, não acha? Até os mamilos, coitados, agora são tratados como se fossem culpados. Logo eles, que são fonte do leite que nos sustenta em nossa fase mais frágil.

Além disso, o sexo consentido nunca é “sacanagem”, como vivem o taxando por aí. Nunca! Dá prazer, não dá? Torna esta jornada inexplicável, que quase sempre acaba sem aviso prévio, mais tragável também.

Sacanagem, em minha opinião, é trabalhar feito burro de carga mais da metade do ano para pagar imposto e, mesmo assim, terminar agonizando na fila de um hospital sem estrutura alguma, lotado de gente sem um pingo do mínimo.

Sacanagem, de fato, é tomar tiro de fuzil sem nunca ter estrebuchado num orgasmo de assustar a vizinhança, ainda sem entender o quão gostoso pode ser usar o bê-a-bá para provocações afrodisíacas ao pé do ouvido.

Sacanagem é ser obrigado a vender pano de prato no sinal desde os dez anos, e dar de cara, todos os dias, com crianças tateando smartphones dentro de carros importados.

Sacanagem é descobrir um câncer imbatível num exame de rotina, mesmo depois de ter recusado diversas chances de se entupir de álcool e nicotina e gordura trans e açúcar e todo tipo de veneno gostoso e, praticamente, irresistível.

Sacanagem é dizer “eu te amo” só para trepar com gente de coração traumatizado e passar a vida toda sem saber que trepar, muitas vezes, também é uma forma honesta de fazer amor – revirar os olhos de quem amamos é carinho do mais sincero e potente, ou não é? Faz bem à pele, até.

Sacanagem é deixá-la (deixá-lo) sem saber o quanto as “sacanagens” que fazem entre quatro paredes e na poltrona mais escondida do cinema reduzem, ao menos por alguns minutos, a aspereza de todas as coisas, especialmente das sacanagens contra as quais, infelizmente, não há muito como lutar.

Apesar dos personagens que se comem de cabo a rabo, diferente do que gente de pensamento empoeirado vai pensar, não há obscenidades em meu livro novo: existe aquilo que – enquanto gememos e rumamos em direção ao nosso descontrole – nos torna capaz de suportar o que é indubitavelmente obsceno – como a mentira, a corrupção, as vans que atropelam inocentes em nome de sei lá quem e a acidez do tempo que corrói tudo; até mesmo o tesão que, um dia, pareceu imortal.

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