Talvez os homens nem façam ideia, mas mulheres criam laços de amizade com a depiladora. Sim, porque ela vê suas partes mais íntimas todo mês. Além de ver, ela toca, pega, puxa. E faz sempre cara de naturalidade, mesmo quando você chega no salão com uma mata, que se fosse Atlântica, garantiria a sobrevivência de mais um monte de espécies. E o melhor – ela, ao contrário do seu namorado, diz que acha ótimo quando você está peluda.
Mas comecei com toda essa história de depiladora, porque a minha me contou um fato de sua vida que gerou a pauta para a coluna da semana. Mãe de um ser de 1 ano de vida, ela confessou que depois que deu cria nunca mais transou (atentem-se para o advérbio: NUNCA). Disse que o marido ficou em segundo plano. Nem ela sabia explicar, mas é como se o bebê tivesse ocupado um lugar que, até então, pertencia ao marido – o de maior amor na vida. Segundo ela, inclusive, ela só tinha descoberto mesmo o que era amor com o nascimento do filho. Perguntei o que o pobre infeliz do esposo achava dessa história e ela disse que ele reclamava de vez em quando e que ela respondia: “Você também não quis ter filho? Agora aguenta.”
Ela deu um puxão que tirou metade dos pelos de uma vez, mas eu até me esqueci da dor diante da dor no coração que aquela revelação tinha me causado. Eu, naquele momento, juntei diversos relatos parecidos de outras amigas-mães e fiquei com dó dos homens. Por mais que a mulher seja malabarista e consiga dividir sua atenção e amor entre o filho, o marido, a família, a casa, o trabalho, alguém vai ser negligenciado nesse processo. E o marido que, aos olhos dela, já é “garantido”, costuma pagar o pato. Principalmente depois que o ginecologista explica que o natural mesmo é que as mulheres não sintam tesão durante a gravidez porque o corpo entende que ela já está reproduzindo e não precisa mais dos espermatozóides do homem, portanto, não precisa mais conquistá-lo. Muitas mulheres, pra felicidade dos maridos, relatam ficar com mais tesão ainda na gravidez, mas essa não parece ser a situação da maioria delas.
Ok, a gente entende que pra mulher não deve ser fácil, mas como fica o sujeito aguentando as blue balls durante 21 meses (como foi no caso da minha depiladora), sem muita esperança ou previsão de normalidade? Daí ele se esforça, tenta ser compreensivo mas depois de semanas queria ao menos um boquetinho, um handjob, uma gozadinha em dupla depois de jogar sozinho no time tantas vezes durante o banho. E a mulher, nada. Esforço zero. Sim, a gente sabe que ela já está sofrendo todas as consequências da maternidade mas e o marido? Pode parecer coisa de machista, mas não é não. Eles decidiram ter filhos, mas passar uma longa temporada sem sexo não costuma entrar no combinado. E aí o homem fica se segurando, com as bolas roxas, tendo uma ereção estantânea só de ver um farol aceso pela rua. Quer um pouco da atenção da mulher que foi totalmente pro filho nos últimos tempos, mas ela não está muito interessada em resolver o problema. E então, o pior cenário costuma se concretizar: ele vai pra zona, pra não explodir.
Pra piorar mais um pouco, adiciona-se também o fator psicológico que faz com que a mulher se lembre durante os 9 meses que está se sentindo uma Orca, que passou três meses vomitando no trabalho, que agora só pode usar roupa de grávida, que sentirá sozinha as dores de empurrar um bebê pra fora do corpo ou de ter a barriga cortada para retirá-lo de lá, que ela se sente uma louca desvairada com as alterações hormonais e que você vai sair ileso da história. No máximo, vai ajudar nas compras, acompanhar nas consultas, consolar nas crises de choro, mas o peso fica muito mais pra mulher – e não me refiro somente ao peso da barriga. Isso faz com que as mulheres sintam que elas têm uns créditos e que os maridos têm por obrigação aguentar umas chatices extras nesse período.
Além disso, um outro fenômeno tende a surgir: a mulher, por pagar o maior pato, tende a assumir uma autoridade maior diante a cria. Ou seja, provavelmente com razão, sente-se mais conectada com aquele bebê que cresce dentro da sua barriga, que come o que ela come e que dá chutes quando quer trocar de posição, do que o pai que acompanha tudo de fora e, por isso, ela acaba ditando as regras nesse primeiro período. Já cansei de ouvir relatos de mulheres que reclamam que os pais são folgados mas quando o coitado vai tentar trocar a fralda, ela fica que nem flanelinha querendo ganhar um trocado: “mais pra direita, mais pra esquerda, tá errado tira e põe de novo.” Ela vai preparar a mamadeira ela diz que precisa esquentar mais. Ele vai por a roupinha ela diz que é melhor colocar outra. É claro que isso não é regra mas suspeito que até mesmo as mamães que gostam da divisão meio a meio de tarefas precisam se controlar um pouco pra não dar palpites. Afinal, ela conviveu diariamente com aquela pessoinha 9 meses a mais do que ele.
Talvez por isso, muitos homens ainda acabem se afastando mais dos assuntos de gravidez e deixando isso mais pra rodinhas das comadres. Mesmo que o desejo de ter um filho tenha sido feito em comum acordo, ainda presencio machos acuados, nos cantos, com apreensão estampada na testa. Medo do que a experiência pode fazer na vida da mulher que ele escolheu pra passar a vida, medo de ficar sem sexo, medo de não ser um bom pai, medo da criança morrer asfixiada com o próprio vômito porque ele não a colocou pra arrotar direito, medo de ficar sem grana, medo das transformações que uma criança pode causar na vida amorosa e sexual do casal.
A solução pra todos esses problemas? Talvez mais equilíbrio e compaixão das duas partes. Do homem, que precisa ser macho e honrar o que tem no meio das pernas mesmo na hora de trocar o filho com diarréia ou de levantar pela quinta vez pra ver se ele está bem a noite e entender que se topou o desafio, precisa ser parceiro de sua mulher haja o que houver. Da mulher, um pouco mais de controle na autoridade e um pouco mais de permissividade – se elas querem maridos que sejam bons pais, então precisam deixar que eles aprendam como sê-lo. E dos dois, esforço mútuo para que um filho traga união e não afastamento – ela, dando uma ajuda sexual mesmo se não estiver com muito tesão e ele estando do lado pra aturar as surpresas desse período.
Achou difícil? Nós também. Aliás, por que mesmo você acha que não queremos ter filhos?