• Beleza é Fundamental?  Uma Análise Sobre a Estética das Vaginas
  • Beleza é Fundamental?


    Uma Análise Sobre a Estética das Vaginas


    “As muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”. Ei, Vinícius de Moraes, acho que chegou a hora de você rever os seus conceitos, meu camarada. Pode parecer infâmia das mais pesadas eu, jornalista fodida e mal paga, ousar contrariá-lo. Logo você, que é Vinícius de Moraes – e isso é adjetivo que basta, porque acrescentar qualquer outra excelência ao seu nome seria redundante. Mas veja só, eu tenho os meus motivos. Senta aí e pede mais uma cerveja que eu lhe explico. Maracujá, por exemplo, é feio à beça, mas é saboroso. Susan Boyle é muito feia, mas canta bem. Mick Jagger é muito feio, mas Rolling Stones é primoroso. Calça de moleton é deveras feia, mas é confortável. Falar “caralho” é feio pra caralho, mas é um prazer inenarrável. E boceta de mulher é feia demais, mas aposto que você já comeu uns pares delas. E lambeu os beiços com gosto. E aí, nessas horas beleza é mesmo fundamental?

    Eu confesso que curto um pau bonitinho. Daqueles meio rosados e brilhantes, circuncidados para eliminar o excesso de pele, incrivelmente equilibrados quando eretos, sem veias saltadas e de pelos do saco devidamente aparados. Com um pinto desses eu andaria de mãos dadas no shopping, colocaria na coleira para passear na pracinha, protegeria numa redoma de cristal e exporia na estante da sala. Mas para transar, não cabem tantos pré-requisitos. Pra começar, porque a razoabilidade precisa estar no dono dele – afinal, não se transa apenas com um pinto. E em segundo lugar, mas não menos importante, porque o que eu sinceramente espero de um pinto que eu levo para a cama é que ele brinque de esconde-esconde dentro de mim. E aí, estar duro já é um bom e suficiente começo.

    E você, caro Vinícius, o que espera esteticamente de uma boceta? Meu lado homem, que às vezes se mostra surpreendentemente machista, arrisca que ter a depilação em dia é um ponto de partida. Porque toda boceta já é um buraco negro por essência e funcionalidade – e todo buraco negro, por ser terreno desconhecido, assusta. Por ser terra-sem-lei, intimida. Portanto, uma clareira de luz em meio à mata virgem – ou nem tão virgem assim – pode soar aconchegante. A vagina, em seu estado natural, tem algo de voraz que contradiz um pouco a sensibilidade da mulher que a carrega. Algo de predador, de estrangulador, de canibal. Uma coisa que aprendi com mamãe desde a mais tenra idade é que jamais devemos deixar um homem dizer que nos comeu. Devemos bater no peito e dizer que fomos nós quem o comemos – afinal, o quê engole o quê numa relação sexual?

    Pense nisso, Vini. Mas também pense numa forma mais digna de nomear a genitália feminina. Sim, você, que passa tardes em Itapuã, que desenha um sol amarelo numa folha qualquer, que ganhou um cheirinho de amor da morena flor. Confio em você, na sua lábia, no seu espírito boêmio. Porque boceta é muito sujo, vagina é muito higiênico, xoxota é muito infantil – e meu corretor ortográfico sequer reconhece. Hmmm, “Tonga da Mironga do Kabuletê”? Não, é muito longo. “Garota de Ipanema”? Pretensioso demais. “Maria Vai Com As Outras”? Ah, desisto. A minha vai continuar a ser Sally atrás de um Jack Skellington que a satisfaça.

    Imagem: The Great Wall Of Vagina, de Jamie McCartney.  


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