Todo fim de relacionamento é uma forma de luto. Independente dos motivos do fim, não é nada fácil se readaptar a uma rotina sem aquele que, por diversas vezes, esteve do seu lado. Os dedos parecem querer discar o número do outro, você se vê fazendo a receita preferida dele, aquela praça – que por tantas vezes foi cenário de beijos e conversas – hoje parece mais tristemente vazia do que nunca. Assim como o luto, que segundo a psicologia acontece em cinco fases, os fins de relacionamentos também seguem uma lógica parecida. Quem já viveu essa situação provavelmente vai reconhecer as fases. E para quem está vivendo, vai servir para lembrar que tudo está bem quando acaba bem. São elas:
1. Descrença
A ficha nunca cai na hora. A sequência de palavras não-dá-mais parece atravessar o peito como um punhal, mas, na hora, você não sente a dor. Por mais crítico que o relacionamento pudesse estar, os envolvidos (principalmente quem tomou o pé-na-bunda) parecem achar que aquilo foi só um momento ruim, que tudo vai voltar como era antes. O fim da história parece ser abrupto demais, e sempre tem cara de uma continuação, seja ela qual for.
2. Raiva
Quando a ficha realmente cai, e você pela primeira vez tem o clique do “já-era“, um outro processo tem início – o da raiva. Sua mente começa a revirar todos os fatos, e você passa a buscar (ou até inventar) todos os motivos possíveis para ter raiva do outro. Mesmo em términos sem conflitos, quando a pessoa apenas foi sincera ao dizer que o amor havia acabado, fica aquela sensação do tipo ele-não-podia-ter-feito-isso-comigo. É nessa fase que pobre bichinhos de pelúcia dados pelo ex vão parar na fogueira, junto com as cartas, bilhetinhos e porta-retratos. Nessa hora também, você aperta com gosto o botão do FB de excluir o sujeito da sua lista de amigos e também da sua lista telefônica. Aquele que antes era personagem principal dos seus sonhos, de repente entra para a sua lista negra.
3. Carência/ Depressão
Depois do outro ter virado vudu nas suas mãos e de você tê-lo xingado de todos os nomes feios dos quais se lembrava, vem a fase da tristeza maior. Você de repente entende que acabou, e que alimentar toda a raiva que você vinha nutrindo não vai mudar a situação. Nessa hora, você começa a relembrar somente as coisas boas que aconteceram (e tende a esquecer as ruins): de como a conchinha com ele era boa; de como era bom acordar e ser mimado com chocolate com pão na chapa na cama; de como o sexo era sempre delicioso; de como era bom ter pra quem ligar quando recebia uma notícia boa; de como todos os lugares parecem chatos agora que você não o tem mais por perto. Essa é uma das fases mais perigosas – a tristeza pega tão forte, que recaídas acabam rolando para quem não está fortalecido. Acontece que a dor faz parte do processo de cura, e se você não deixa a ferida fechar e vai logo correndo de encontro a ele, pode tomar um tombo ainda maior, já que nada vai ter mudado. Resistir é preciso.
4. Aceitação
Nessa fase, depois de ter comido o que o diabo amassou nas outras três anteriores, você começa a se acalmar e aceitar os fatos como eles são. Você tem certeza de que acabou, já desabafou xingando o sujeito de todos os nomes, já chorou a falta dele na noite fria de domingo e agora começa a aceitar que precisa continuar seu trajeto porque o mundo não tem botão de pause pra gente sofrer. Essa é a fase na qual você começa a aceitar os convites dos amigos pra ir dançar e esfriar a cabeça (antes você relutava e, quando topava ir, ficava achando tudo chato) e volta a se divertir, começa a olhar para outras pessoas na rua como potenciais pretendentes, você já não tem mais vontade de chorar cada vez que te perguntam o que aconteceu e a vida começa a perder o filtro preto e branco e vai ganhando cor de novo.
5. Motivação
Nessa altura do processo, você está praticamente curada da dor. A ferida fechou por completo e só deixou uma cicatriz ali que já não te desperta muitas sensações quando você a vê. É comum nessa fase você olhar para trás e não entender muito bem como sofreu tanto e o porquê de tanto choro e revolta. O motivo do fim agora fica claro na sua mente, e você percebe que o término foi a melhor coisa que poderia ter acontecido. Você passa, então, a pensar mais em você e na sua felicidade. Ou decide que quer ficar um tempo sozinha, se mimando, ou se abre para novas possibilidades e deixa o olhar atento para o próximo sujeito que vai merecer ocupar a sua cama e o seu coração.
Nem sempre as pessoas passam por essas fases de forma linear, e não há como estabelecer um tempo de duração de cada fase. Tudo depende do histórico de experiência de vida da pessoa, do quanto ela acredita em si mesma e se valoriza, e do quanto ela está fortalecida para enfrentar os tombos da vida. Algumas levam anos para completar o ciclo; outras estão prontas para recomeçar em poucos dias. O sofrimento é essencial, ele é o nosso grande mestre que nos ensina as maiores lições na vida. Mas a escolha entre superar um fato ou se apegar a ele e alimentar a dor é absolutamente nossa. E você, o que vai escolher?