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Apaixonar-se por alguém é como ganhar o presente de Natal que você pediu ao Papai Noel quando ainda não tinha todos os dentes na boca. Você espera, mas nunca sabe ao certo se virá, nem como virá. E então, o presente chega. O amor chega. Sem explicações, sem palavras, sem mais delongas. E então você dá o primeiro beijo, com a mesma impulsividade que o fez rasgar o embrulho para descobrir cada detalhe do presente. Você anda de mãos dadas na rua, com o mesmo orgulho que o fez levar o novo brinquedo à escola e exibi-lo aos amigos. E, enfim, você descobre os inúmeros prazeres do sexo, com a mesma empolgação que o faz brincar até cansar com o novo presente.
O problema é que, conforme as paixões acontecem e vão embora – assim como os brinquedos, que depois de muito usados a gente doa –, as próximas parecem não ter tanta graça, e as passadas parecem nem ter importado tanto. Se foi (ou é) tão bom, por que nós temos cada vez mais medo de nos entregarmos completamente às novas possibilidades de amar?
A resposta é simples e parece ficar mais clara – e mais difícil de ser encarada – com o passar do tempo: por pura burrice. Minha, sua, nossa. De todos os que já se aventuraram a amar por esse mundão afora.
Sim, burrice. Não me leve a mal, não pare de ler esse texto e nem ouse duvidar de mim antes de ao menos terminar essas linhas. Nós somos, sim, burros, ao negar o que pode vir pela frente, baseados pura e simplesmente no trauma de um passado que não deu certo. E nosso erro é bobo: tomando o amor e a paixão como ciência (só porque somos levemente controlados por algumas dezenas de hormônios), consideramos que nossas relações anteriores são a prova empírica de que “não deu certo daquela vez, então eu devo tomar cuidado agora”. Mas as coisas não são bem assim, meu amigo.
Amar é mais ou menos como respirar. Você nasce sabendo – é uma função vital. Não é a toa que você deixa de respirar quando o coração deixa de bater. E no meio da aula de educação física, durante uma partida de futebol, você já deve ter levado uma bolada na barriga, daquelas que te fazem cair no chão e perder a simples capacidade de puxar e soltar o ar por alguns instantes. Mais ou menos o mesmo aperto que você sentiu quando terminou seu último relacionamento (e todos os outros). Você não abriu mão dos pulmões por causa desse trauma, abriu?
Então não deveria deixar o coração de lado.
Se algo é tão bom a ponto de te fazer sorrir sem motivo, encarar a vida de uma maneira mais positiva e até dar risada das piadas mais imbecis já feitas, por que tentar freá-lo? Pela simples covardia de não querer se machucar de novo? E por que é que você há de se machucar de novo? Por simplesmente não ter dado certo da última vez? Não, o amor não é uma ciência lógica.
Por isso, desamarra essa cara, joga os medos para o alto, aponta pra paixão e rema. Se teu barco afundar, encontra uma sereia – ou um sereio, com o perdão do neologismo. Se der errado de novo, basta nadar até a praia e tentar mais uma vez. E outra, e mais outra. A vida é curta demais para perder tempo sentindo medo, e o Papai Noel não gosta de criança medrosa.