• Sobre Relacionamentos À Distância E Saudade
  • Sobre Relacionamentos À Distância E Saudade


    Haviam esperado dias por aquele momento. Semanas. Meses. Que pareceram anos. Décadas. Séculos. E cada minuto que antecedeu o grande acontecimento pareceu durar horas. Dias. Primaveras. Quando trocaram olhares – e já nem sabiam se era a primeira, quarta ou décima oitava vez que aquilo acontecia -, toda a espera valeu a pena. Todas as noites em que a cama parecia grande demais, que o céu parecia cinza demais e que a vida parecia chata demais ficavam, uma vez mais, para trás. As cortinas do mundo se fechavam lentamente, deixando apenas os dois no palco. O filme era só deles. Cada detalhe do cenário fazia-se importante – e seria lembrado por ambos nas próximas conversas por telefone, nos próximos e-mails, que não tardariam a chegar. Mas agora, ali, estavam juntos… E nada mais importava.

    (…)

    Não podiam se tocar. Eram apenas duas vozes, duas telas de um monitor, caracteres perdidos em uma conversa. Conversa que se repetia quase que ciclicamente. Pensar que tais brigas não aconteceriam se a distância inexistisse já era ineficaz. A grande dor resumia-se na impossibilidade de encerrar tudo aquilo com um abraço, um beijo, uma transa de reconciliação. O desfecho mais bonito seria encerrar aquela ligação com um simples “Desculpa, eu te amo”, e nada mais. E, com o passar do tempo, aquilo parecia cada vez menos eficiente. Cada vez mais insuficiente.

    Se você vive – ou já viveu – um relacionamento à distância, independente do número de quilômetros ou fronteiras, aposto uma dose de Jack Daniel’s (sem gelo, por favor) que você se identificou com essas situações. Aposto que borboletas já invadiram seu estômago ao cruzar olhares com a pessoa amada e que você já se sentiu a pessoa mais solitária do mundo depois de uma briga por Skype, telefone ou Facebook. A parte boa é que o amor pode sobreviver. A parte ruim é que tudo isso só vai se potencializar.

    O namoro à distância potencializa tudo, sem preconceitos: as coisas boas e ruins. E exige um nível de maturidade, preparo, paciência e dedicação igualmente potencializados. Antes de chegar nesse ponto, porém, aperta o cinto e segura minha mão: essa categoria de namoro se desdobra.

    Tipo 1 – Cidades próximas, frequência alta. Nível de dificuldade: baixo

    Vocês não moram tão longe, mas frequentam tanto a rodoviária das duas cidades que já conhecem os motoristas dos ônibus por nome e sobrenome. Encontram-se semanalmente (no máximo quinzenalmente) e conseguem participar ativamente da vida do outro.

    Tipo 2 – Cidades distantes, frequência inconstante. Nível de dificuldade: médio

    A distância é maior e, nesse caso, vocês não podem ter medo de avião. Uma webcam se faz importante, e o orçamento anual dos dois precisa ser pensado e repensado para dar conta de todos os gastos extras – e serão muitos.

    Tipo 3 – “Amor, vou passar um ano na Europa fazendo intercâmbio”. Nível de dificuldade: difícil

    Vocês sabem que não vão se ver durante um longo período de tempo e que a vida dos dois sofrerá mudanças bruscas com isso, para quem vai e para quem fica. A carência é grande, a insegurança triplica e a possibilidade de se envolver com outra pessoa parece maior a cada pequena discussão.

    Não é fácil viver uma história de amor assim, independente de qual for seu tipo de relacionamento, independente da modalidade em que você mais se encaixa. Isso porque a distância, por menor que seja, traz um fator psicológico de peso: a impossibilidade de simplesmente pegar o carro depois de uma discussão – por menor que ela seja – e ir visitar a outra pessoa. Ao mesmo tempo, o bright side da coisa é bright mesmo: cada encontro torna-se único. Vocês vão se lembrar do filme ruim que assistiram no cinema naquele sábado à noite, do domingo que assistiram ao Domingão do Faustão junto com os pais dele, de cada garrafa de vinho e de cada piada ruim que fizeram – e que parece ficar melhor com o tempo.

    Namorar à distância exige maturidade exatamente por essa hiperbolização toda. Da mesma maneira que você vai se sentir a pessoa mais feliz do mundo por estar lutando por um amor tão difícil, que traz um gosto tão doce à boca, vai precisar acreditar o suficiente nele – e lidar com todas as dificuldades inerentes – para aturar o amargo. Muitos de seus dias da semana (ou de semanas e meses inteiros) serão baseados em esperar alguma hora do dia para simplesmente contar o que você fez nas horas que passaram. Contar com quem você conversou, o que fez no trabalho, o que estudou na faculdade – e como durante todo esse tempo a pessoa amada não saiu dos teus pensamentos.

    É preciso ter certeza do que se quer e certeza de que a outra pessoa está na mesma sintonia que você. Talvez esses sejam os dois fatores mais importantes para sobreviver a tudo de ruim que virá, e desfrutar todas as coisas boas.

    No mais, siga em frente, porque vale a pena. Vale as passagens de ônibus. Vale as contas de telefone. Vale cada lágrima de alegria e de tristeza. É simples assim. O amor – perto ou à distância, em todas suas combinações e formas possíveis – sempre vale a pena.


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