E todo mundo fala da importância do hoje como se valorizar o presente fosse a coisa mais fácil do mundo. Quem nunca imaginou toda a linha da vida ao lado de alguém, que atire a primeira pedra. Quem nunca acordou, com os primeiros raios de sol filtrados pela persiana entreaberta, olhou para o lado e ficou analisando cada linha de expressão da pessoa escolhida, imaginando como ela iria envelhecer? Quem nunca usou a piadinha das dentaduras no mesmo copo, só por descontração, mas com o anseio de que, no fundo, aquilo se tornasse real?
Somos assim, sedentos por uma segurança utópica. A promessa de uma trajetória juntos nos move em direção ao tão esperado “eu te amo”, que hoje é visto como mais do que uma expressão de sentimento – ele é quase um sinal verde, um aviso de “agora é seguro prosseguir”. Só que como humanos, também somos instáveis. Somos um paradoxo ambulante. Queremos algo que não mude, mas queremos mudar. Queremos usar o “para sempre”, sem perder as alternativas que a vida pode oferecer. Afinal de contas, você pode sim conhecer alguém amanhã e deixar de lado essa pessoa que está há tanto tempo ao seu lado. Seu amado pode começar a gostar de outra pessoa e você tem que saber conviver com isso. Ao longo do relacionamento, vocês podem se sentir atraídos por outras pessoas. Pode ser que passe, pode ser que não, mas invariavelmente isso acontecerá e, sim, você vai sobreviver.
Eu seria hipócrita se dissesse que não penso em um futuro ao lado de alguém. Mas o que deixo para outros que, assim como eu, têm a dificuldade de se prender ao presente, é a lição mais importante: paciência e flexibilidade. Todos os dias, tente pensar que você já é sortudo só por estar vivo. E o que vier para agregar é consequência, é aditivo. A pessoa que está ao seu lado está longe de ser sua, e a melhor maneira de mantê-la por perto é acrescentando algo de bom à vida dela todos os dias. O caminho é cultivar o que você tem de melhor e abolir o “para sempre” da sua vida, porque mesmo que dure para sempre, você nunca saberá. E de promessas vazias o mundo está cheio. Aceite as promessas que você pode cumprir e que podem ser cumpridas para a sua vida. Em vez de planejar o casamento daqui a cinco anos, pense em uma viagem gostosa para o fim de semana. Em vez de escolher o nome dos seus filhos, sem ao menos saber se eles existirão, escolha o cardápio daquele jantar romântico.
E por mais que “carpe diem” não seja a filosofia mais romântica, ela é a mais real. E temos que saber viver com a realidade. Sonhar é bom, é lindo, mas realizar sempre será melhor. E realizar é uma ação do hoje. O amanhã é uma incógnita. No futuro, você não sabe nem se terá dentadura, imagina então saber se vai dividir o copo para guardá-la com alguém. Viva o hoje, ele é o que importa, é o que há de mais precioso. E é por isso que o hoje também é chamado de presente.