Quando a gente pensa na palavra casamento, a imagem clássica que surge é a de um pai, uma mãe e uma criança numa casa gostosa, ensolarada e aconchegante, com um quintal grande e um cachorrinho travesso. Bem aquela imagem do comercial de margarina mesmo. E embora não haja nada de mau nessa ideia, é importante ter em mente que ela é apenas uma das múltiplas possibilidades e configurações que uma família pode formar. Podemos ver mãe solteira, mãe casada, mãe com pai, pai sem mãe, mãe com mãe, pai com pai, casal sem filhos, casal morando junto e… casal morando separado. Sim, marido e mulher, assim como o seu avô e a sua avó, morando em casas separadas. Certamente você não tinha imaginado essa opção. Mas ela existe e – acredite – em alguns casos pode ser a alternativa mais viável para um relacionamento saudável e duradouro.
Por que morar junto nem sempre é o melhor caminho?
Estamos acostumados com a ideia de que seres humanos são gregários e gostam de se amontoar em torno daqueles que amam. O script está configurado para os casais como um roteiro pré-definido: ficar, namorar, noivar, casar ou juntar e morar junto. Mas e se uma das partes (ou ambas) não se sente confortável para dividir o espaço físico? Isso seria patológico ou sinal de falta de amor? Um olhar apressado e conservador diria que esse casal tem problemas graves e que não, eles não se amam de verdade – onde já se viu casar e não aproveitar a maior dádiva disso, que é passar o maior tempo possível ao lado da pessoa escolhida? Num primeiro momento, pode ser difícil aceitar, mas não: não é todo mundo que tem habilidade e vontade de ficar debaixo do mesmo teto por condição.
E aí entra uma questão que merece a nossa atenção. O que vale mais: a quantidade do tempo que se passa ao lado do outro ou a qualidade desse tempo? Ficar o dia inteiro um ao lado do outro, mas cada qual prestando atenção no programa do Faustão, ou passar algumas horas juntos conversando, tomando um drink ou assistindo a um bom filme abraçados? Talvez seja justamente a possibilidade de estar separados que faz com que os casais não convencionais escolham ficar debaixo do mesmo teto de forma saudável – de um jeito que, inclusive, muitos casais que vivem debaixo do mesmo teto não conseguem.
Juntar os trapinhos pode não ser um mar de rosas
O ideal romântico sempre nos vendeu a ideia de que estar ao lado da pessoa amada é a melhor coisa do mundo. Porém, a convivência diária no mesmo espaço pode trazer problemas. Aqui eu destaco alguns deles:
– Concessão de espaço físico: na hora do rush da casa muitos se atropelam, colidem, se estranham e até brigam pela pia ou o chuveiro. Nem todas pessoas tem aquela compreensão necessária de priorizar os momentos de cada um. Não custaria nada acordar um pouco mais cedo, adiantar seu lado e deixar o outro livre para seguir seu dia bem.
– Generosidade logística: existem espaços pessoais e espaços comuns numa casa. Muitos casais não conseguem entender isso, deixando objetos, roupas e bagunças pessoais espalhadas pela casa como se fosse uma extensão do seu canto da bagunça. Nem todos precisam compartilhar do mesmo desleixo.
– Estabelecer limites pessoais: tempo e espaço não são duplicáveis. No aqui e agora não dá pra incluir tudo o que se quer. Muitos casais não conseguem perceber que apesar de estarem juntos não estão grudados ou fundidos. Essa queda de braço entre aquele que foge e aquele que tenta grudar pode desgastar o relacionamento e punir injustamente quem tem mais necessidade de espaços pessoais.
– Necessidade de intimidade: emails, gavetas, bolsas, celulares, privadas, agendas e pensamentos são espaços sagrados e dedicados à particularidade. Bom senso é fundamental ao respeitar essa intimidade que não precisa ser compartilhada como prova de amor.
– Particularidades: existem pessoas que tem hábitos e manias inconciliáveis com a partilha de espaço físico. Se certos rituais e modos próprios de agir não são considerados como parte de quem a pessoa é, não adianta forçar a barra. Ninguém precisa de um professor dando sermão de como bem agir no dia-a-dia.
– Necessidade de solidão: ainda que seja delicioso compartilhar a sobremesa, nem sempre uma pessoa precisa estar ao lado ou encostada para demonstrar afeto. Certos momentos pedem recolhimento, silêncio, introspecção e uma solidão voluntária.
Se um casal consegue respeitar essas particularidades do convívio já é um bom sinal, mas se a proximidade física impede esse essa fluidez, chega a hora de se pensar em outras alternativas. Morar separado não é um crime, e pode ser gostoso revezar seus espaços de convívio. Na vida de casal a única coisa que deveria ser consenso é fazer com que a felicidade se multiplique para ambos. De resto, é tudo negociável, meus caros.