Por algum motivo imposto pelo cosmos, você não tem uma namorada. Você quer muito, mas não tem. E olha que você é gente boa, é bonito, é inteligente, é pauzudo, sabe usar o instrumento, é talentoso, não bate em pai e mãe, é carinhoso, #nãocurteromerobritto, ocupa seus dias de maneira interessante e produtiva… Ter uma companheira era tudo o que você queria na vida, mas Deus continua dando bolacha pra quem não tem dente. Então você:
a) senta e chora
b) amarra o Santo Antônio de cabeça pra baixo
c) continua à procura, afinal, você é brasileiro e não desiste nunca
d) aprende a curtir a sua própria companhia
e) inventa uma namorada
Conheço gente de todas as cores, de várias idades, de muitos amores. E acharia razoável – veja bem, razoável, e não bom – se você optasse por qualquer uma das quatro primeiras opções. Admiro e seco as lágrimas de homem que chora; entendo quem, num país de gente supersticiosa, acredita em santo e – mais – em castigar um santo para obter benefícios; repudio, mas me solidarizo com o desespero de quem dá cada passo à procura de alguém com quem dividir o copo de dentaduras; e amo/sou gente que curte a própria companhia. Mas juro que não consigo imaginar a lógica de alguém inventar uma namorada. E olha que a minha imaginação é fértil – o papel que o diga. Por que, meu Deus?
Para a cabeça de uma pessoa como eu, que nunca conseguiu sequer mentir a idade na balada ou forjar a assinatura da mãe no caderno de bilhetes da escolinha, simular um relacionamento é demais. Beira a esquizofrenia. Mas parece que tem gente bastante animada com essa perspectiva. Ou desesperada por se mostrar socialmente comprometido – depende do ponto de vista. Seguindo a eterna lei da humanidade que diz que enquanto uns choram, outros vendem lenço, um grupo de desenvolvedores norte-americanos concebeu um serviço de criação de namoradas. Isso mesmo. Você escolhe um plano, que varia entre $9,99 e $49,99, e eles se encarregam de plantar provas – tanto virtuais, como mudança de status no Facebook, quanto reais, como telefonemas programados – de que você tem uma namorada. A brincadeira chama Invisible Girlfriend. De fato, a zoeira never ends.
Assim que fiquei sabendo dessa ~maravilhosa~ novidade, comecei a pensar nos motivos que levariam alguém a encarnar o Cazuza e adorar um amor inventado. Não cheguei a nenhuma conclusão decente. Nenhuma. Mas o criador dessa geringonça defende que – vejam só – ter uma namorada invisível faz você parar de se preocupar com o amor e focar mais no trabalho. Super sensato, afinal, cafuné, companhia nos domingos de chuva e sexozinho delícia são coisas que você pode receber do seu chefe. E que o serviço pode ser muito útil para aqueles que têm relações homossexuais e não querem que a família desconfie. Claro – além de sofrer com uma possível rejeição familiar, você ainda tem que se enfiar num novelo de mentiras, como quem tentasse cometer o “crime” perfeito. E que, finalmente, você poderá se livrar das investidas daquela companheira de trabalho – simplesmente dizer “não” não pega bem. É um forte indício de que você é viadinho, porque homem que é homem não nega uma trepadinha, independente das circunstâncias.
É aquela velha mania, inerente ao ser humano, de achar que uma mentirinha branca não faz mal a ninguém. E se mentir nunca foi tarefa das mais complicadas para alguns, a tecnologia veio-lhes como mais um álibi. Desde o finado chat do UOL, você mentia sobre o tamanho do seu pau. Aí veio o Orkut, e você começou a mentir sobre a sua popularidade – mas o que ninguém sabia era que mais da metade dos seus amigos era composta por aquela galera que a gente adiciona pra xavecar, mas não vinga. Aí veio o Facebook, e você resolveu mentir sobre a sua felicidade, postando fotos de toda e qualquer cervejinha e taggeando ozamigues, só pra esfregar na cara de meio mundo que seus finais de semana são sempre os mais badalados – mesmo que, na real, você esteja se embriagando pra esquecer a dor de um amor mal correspondido. Aí veio o Lulu, que, apesar de ser uma das maiores imbecilidades tecnológicas, dizia a verdade – ou melhor, falava por você sem o seu consentimento. Se era verdade ou se era mentira, só os fortes saberão. E, por fim, veio esse negocinho aí, o Invisible Girlfriend, para provar que seu pauzão de 23 centímetros te fez arranjar um partidão.
Já pensou inventar uma namorada do jeitinho que você quer – bonita, obediente, com peitões, amante de anal e expert em sexo mesmo tendo se guardado toda para você até os 25 anos? Sem chulé, sem passado amoroso/sexual, sem olhos para outro bíceps que passa pela rua? Que te ligue todos os dias e que te dê presentinhos esporadicamente? – sim, esses são dois dos benefícios inclusos nos pacotes do Invisible Girlfriend. Maravilhoso, não? Não. Pra mim, sinceramente, isso é fraqueza. É falta de objetivos na vida. É desespero. É se preocupar em dar satisfação da sua vida pessoal para a sociedade, que nada deveria ter a ver com isso – mais uma vez, o público invadindo o domínio do privado. É ausência de colhões para assumir que se está sozinho – e que estar sozinho não tem nada a ver com ser sozinho.
Agora peço licença, que enquanto vocês punhetam inspirados pela ideal namorada invisível, eu vou ali dar uns agarrões no namorado real. De carne, osso, virtudes lindas, vícios humanos e bafo quando acorda.