Então vocês namoram há algum tempo – uns dois, três anos – e de repente alguém pergunta quando vocês vão se casar. Silêncio na mesa, no cômodo, na casa, no bairro, no universo. Parece óbvio, mas casar não é como se formar na faculdade, algo que você consegue estimar quando acontecerá – se o curso dura quatro anos, é provável que, em até seis, você esteja diplomado e feliz. Mas casar é diferente. Ninguém sabe quando vai se casar a não ser que já se tenha marcado a data. E quando alguém pergunta isso, – infelizmente – geralmente está querendo saber sobre a cerimônia católica, a coisa clássica, véu, igreja, arroz, carro caro com latinhas penduradas, festa cara, coisas caras pra todo mundo ver e os noivos não aproveitarem. O casamento convencional cada vez faz menos sentido, assim como essa pergunta inconveniente.
A questão que os curiosos de plantão não contemplam é que existe outro “casar”. Um casar que ninguém – ou quase ninguém – te pergunta quando vai ser. E que acontece assim, meio do nada – quando vê, já foi. Não custa tanto dinheiro, nem precisa de tanta gente pra testemunhar, nem documentos, nem cerimoniais rebuscados. Basta (muita) boa vontade, malas feitas, duas escovas e um potinho. Morar junto é o novo casamento. E a decisão de quando isso deve acontecer simplesmente não é tomada de maneira racional – por mais estranho que possa parecer.
Tem casal que passa os primeiros meses – ou primeiros anos – se amando em público loucamente, demonstrando para os quatro cantos do mundo o quanto se gostam, postando mil fotos apaixonadas no Facebook, jurando amor eterno e dizendo que no futuro vão morar juntos para depois casar e ter um apartamento lindo repleto de filhos lindos num lindo domingo de sol. Isso me cheira mais a exibicionismo do que a amor propriamente dito. O que eu tenho percebido entre amigos e conhecidos é que os casais que decidem dividir o mesmo teto todo dia não são os que planejam estar juntos a longo prazo – são os que simplesmente querem estar juntos agora. São os casais que transam e depois vão comer pizza, e depois vão visitar um amigo e, na hora de cada um ir para a sua casa, percebem que gostariam de continuar juntos. Não para transar – ou não só para transar -, mas pela presença, pelo abraço, pelos pés roçando, pelo “bom dia” ao pé do ouvido. São os casais que vão mais ao cinema e ao parque do que ficam trancados no quarto, porque sabem que viver junto não se limita a transar 24 horas por dia e já entenderam que aquela história de uma cabana e muito amor é linda até que se chegue a primeira cobrança de aluguel. São os casais que encontraram um no outro mais do que um bom beijo ou um bom sexo: um bom amigo.
Acho que a cumplicidade é o que faz casais decidirem morar na mesma casa. Não é o amor incondicional. Não é o sexo incrível. Não é a fofura melosa ao telefone. É a vontade de contar primeiro para o parceiro, é a vontade de perguntar uma coisa e preferir o namorado ao Google. É estar varado de fome, mas esperar o outro chegar só para comer junto. É economizar no jantar para gastar no motel e rir disso depois. É pelas pequenas coisas. Um casal pode decidir morar junto por mil motivos, mas frequentemente percebo que a principal razão para duas pessoas unirem as escovas é simplesmente a falta de necessidade de um motivo. “Por que morar junto?”, alguns se perguntam, sem perceber que a pergunta não é exatamente essa. Enquanto isso, os casais que de repente percebem que seriam mais felizes sob o mesmo teto fazem outra pergunta. Eles geralmente se questionam “por que não?”, e a resposta simplesmente não existe. Então eles escolhem ser felizes!