• O Que Eu Desejo Para A Gente Nesse Ano Novo
  • O Que Eu Desejo Para A Gente Nesse Ano Novo


    Que a gente sorria mais. Ao observar a criança brincando na sala de espera do médico, ao perceber que é quinto dia útil e a fila do banco não está tão longa assim, ao comprar o pão recém-saído da primeira fornalha da manhã. Ao notar, pelos primeiros acordes, que o mp3 player sorteou a nossa música preferida na manhã de segunda-feira. Ao sentir o cheirinho daquela chuva que promete cair pra lavar a alma e o suor que escorre naqueles dias em que o mundo parece uma grande sauna a seco. Ao encontrar um estranho na rua que nos soa familiar, seja porque lembra aquele amigo de infância, seja porque usa aquela roupa que a gente vendeu no último bazar beneficente. E até mesmo ao ouvir a vinheta do Fantástico no domingo à noite – porque a gente sabe que, na verdade, a segunda é um recomeço, e todo recomeçar é sempre bem-vindo.

    Mas que as lágrimas caiam quando for necessário, porque a cada vez que a gente segura o nosso choro, um pedacinho da gente morre afogado em mágoas. E de pedacinho em pedacinho, a gente vai perdendo a nossa essência. Até virar mais um nessa multidão de gente insossa, que acha que sentir é feio. Que se entregar é feio. Que se permitir é feio. E que haja sempre alguém disposto a secar o nosso rosto. Porque ao contrário do que diz a sabedoria popular, amigo é, sim, aquele que enxuga as suas lágrimas – aquele que não as deixa cair é quem te reprime. É quem te manda chorar na cama, que é lugar quente. E de repressão eu quero cada vez mais distância.

    Que a gente se doe mais. Que se doe até rasgar. Que se doe até doer. Que não tenha medo de se entregar e de, quem sabe, perceber que a vida é muito mais harmoniosa quando há um encontro. Que a gente entenda, de uma vez por todas, que amor não é recurso finito. Amor é fonte renovável, que brota feito água de mina a cada sorriso retribuído, a cada beijo roubado, a cada abraço apertado. Que cresce até inundar tudo aquilo que um dia não passava de tédio. Que, se move montanhas, eu não sei – mas que atrai corpos como ímãs.

    Que a gente transe. Transe com vontade. Transe até entrar em transe. E que a gente deixe de lado, de uma vez por todas, todas as amarras que condenam o nosso prazer. Que a gente se beije, se lamba, se morda, se chupe. E que a gente não se culpe de transar no primeiro, no segundo ou no décimo quarto encontro. Que a gente escorregue pelo nosso suor. Que a gente se inunde com o nosso gozo. E que a gente só se masturbe menos se houver mais penetração. Que a gente, acima de tudo, saiba respeitar as diferenças e a sexualidade do outro. Porque como já dizia vovó, o que seria do vermelho se todo mundo gostasse de azul?

    As listas? Que, por alguns momentos, a gente as esqueça. Não porque julguemos desnecessários os planejamentos, mas porque entendamos que tem coisas que, simplesmente, não estão sob o nosso comando – e que desejo excessivo por controle acaba virando paranoia. Que a gente se permita comer um pouquinho mais, a despeito da dieta. Que a gente se permita não levantar tão cedo nos dias de descanso, a despeito do sol que racha através da janela. Que a gente se permita curtir uma boa companhia até mais tarde, a despeito do ônibus que para de passar à meia noite e quarenta. Que a gente, enfim, se permita ser a cada dia mais feliz, a despeito dos barrancos nos quais a mão da vida, inevitavelmente, nos empurra.

    Que, enfim, a gente se encontre. Dentro de nós mesmos – nos desenhistas que deixamos de ser para nos tornar engenheiros, nos bailarinos que deixamos de ser para nos tornar advogados, nos escritores que deixamos de ser para nos tornar jornalistas; enfim, nas sonhadoras crianças que deixamos de ser para nos tornar gananciosos adultos. Ou na próxima esquina. Na próxima dança. Nos próximos lençóis. Na próxima vida. E que, enfim, possamos caminhar de mãos dadas. Como se os dedos entrelaçados fossem o escudo que a gente escolheu para se proteger da tempestade de verão que não tarda a chegar. Porque eu nunca precisei de ninguém pra ser feliz. Mas descobri, assim, meio do nada, que viver é ainda mais gostoso quando você vem comigo.

    Para fins de direitos autorais de imagem declaro que as fotos usadas no post não são de minha autoria e que os autores não foram identificados.


    " Todos os nossos conteúdos do site Casal Sem Vergonha são protegidos por copyright, o que significa que nenhum texto pode ser usado sem a permissão expressa dos criadores do site, mesmo citando a fonte. "