• Arrependa-se Só Do Que Fez.  E Viva Hoje Como Se Não Houvesse Amanhã.
  • Arrependa-se Só Do Que Fez.


    E Viva Hoje Como Se Não Houvesse Amanhã.


    Criticar adolescentes pela sua inconsequência é, em suma, o passatempo favorito de quem é (ou se considera) adulto, com responsabilidades e obrigações – é o menino irresponsável que encheu a cara na viagem de formatura, é a menina que mal saiu das fraldas e já está pegando todo mundo na balada, é o louquinho que matou aula de matemática para dar o primeiro trago num cigarro. Afinal de contas, é muito fácil ser adolescente – a patrulha da moral e dos bons costumes diz. É muito fácil tomar atitudes sem medir as possíveis consequências e sem pensar nas contas a pagar no final do mês. É muito prazeroso seguir suas próprias vontades, seu próprio tesão e dar a cara a tapa, para quem quiser bater, e depois ir chorar no colinho quente da mamãe.

    Pois bem. Dia após dia, transformamo-nos em um bando de (semi)adultos que sente prazer quase sexual em diminuir gente com mais coragem de se estropiar mundo afora simplesmente porque “não tem nada a perder”. Felizmente (para mim), tenho passado a discordar cada vez mais dessa linha de pensamento.Essa ideia foi criada, ao que me parece, por adultos insatisfeitos com suas próprias vidas, seja por medo de tentar ou por terem falhado uma, duas, três ou quarenta vezes. Se lhes faltou coragem para tentar a segunda, terceira, quarta ou quadragésima primeira, pensam, é porque a vida foi feita para ser difícil e essa deve ser uma máxima repetida por todos, religiosamente.

    Papo furado.

    Sei disso porque fui um adolescente frustrado. Me fodi bastante. E ainda assim, hoje sou um adulto cada vez mais simpático às frequentes decisões precipitadas e enrascadas em que me meto, dia após dia. É delas que eu me recordo, em meio a grandes e pequenos amigos, quando peço uma taça do pior vinho tinto que meu bar favorito têm a oferecer. São elas que me dão subsídio, inclusive, para sofrer menos com as consequências desastrosas da próxima escolha errada que eu fizer. Não somos obrigados a viver acertando – a menos que façamos a nós próprios essa exigência. Eu prefiro ir acertando a vida, de acordo aquele velho pensamento de parachoque de caminhão: nasci careca, banguela e pelado. O que vier é lucro.

    Ter medo de seguir seus próprios impulsos é desistir de todas as oportunidades que a vida te oferece diariamente. É fechar os olhos para a soma de acasos (já muito difícil de enxergar a olho nu) que traz, bem diante do seu nariz, chances únicas de escrever novos e excitantes capítulos na sua história. Conheço gente que perdeu a chance de ter bons empregos, ótimos amigos, amores sensacionais e transas inesquecíveis só porque tomar uma atitude parecia arriscado demais.

    É preciso ter bom-senso? Sim. Mas é ainda mais necessário parar de achar que o mundo é um tabuleiro de xadrez e que tudo precisa ser planejado como se, ao fim do dia, fosse necessário contabilizar todos os erros e acertos em um placar.

    Que nós, “gente grande”, deixemos cada vez mais distante o pensamento que jovens se arriscam demais por não ter nada a perder. É uma desculpa mesquinha para negar a característica que fez sua espécie chegar até aqui: impulso e instinto. Excluindo dessa conta situações que podem colocar você ou outros em risco real de morte, é absurdo acreditar que alguma coisa é mais importante a ponto de abdicarmos da busca da felicidade – seja ela em uma única pessoa ou em várias, seja ela pelo trabalho dos sonhos ou por aquela viagem que você planeja há anos, mas nunca teve coragem de sequer tirar seu passaporte.

    Ninguém irá viver sua vida por você, e nenhum filme, música ou livro pode ser bom o suficiente para se sobressair a todas as possibilidades que continuam (e continuarão, para sempre) a aparecer. Deixe a ficção para quem sabe construí-las. Viva a realidade, com todas suas possíveis excitações e frustrações.

    Respire fundo. Liberte-se de todas as premissas que foram empurradas goela abaixo. Mande aquela pessoa chata para o inferno, comece a planejar (e guardar dinheiro) para sua próxima (ou primeira) viagem, coloque em prática todos seus projetos e – por que não? – chame aquela pessoa incrível para tomar alguma coisa, antes que outra pessoa o faça. Seja a pessoa com “nada a perder” porque, no final da vida, você terá sido aquele que mais ganhou. Viva hoje como se não houvesse amanhã para que todos seus amanhãs sejam, sem meias-palavras, um baita tesão.


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