• Eu Não Me Depilo. E Daí?
  • Eu Não Me Depilo. E Daí?


    Noite de sábado, nenhum programa especial à vista. É quando a gente reúne as amigas pra um papo calcinha que começa em lamúrias sobre a vida profissional, passa por religião, boom imobiliário e relacionamentos amorosos para terminar em… pelos. Por mais que tivéssemos discutido sobre coisas muito mais desagradáveis, notei que quando o assunto era ‘pelo’ elas não gostavam da ideia – alegavam que pelos são sujos e nojentos. Eu, como a minoria, ria sem graça e logo mudava de assunto para não causar polêmica.

    Segui meus dias questionando: por que tamanha repulsa aos pelos?

    E hoje estou aqui para confessar. Tenho 21 anos e sou adepta ao estilo Sonia Braga na década de 80, ou seja, não me depilo. Não mesmo. E já imagino os comentários que seguirão. Coisas do tipo: “como você consegue? Não tem medo do homem ficar com nojo na hora do oral? Não acha que é feio na nossa década?”. Entre outras baboseiras mais, um tanto quanto ofensivas.

    São tantas as perguntas para uma resposta tão simples: gosto dos meus pelos. E isso não me faz mais suja ou menos limpa do que você, que vai religiosamente ao salão uma vez a cada duas semanas. Acredite: eu gosto de ser assim!

    E como se não fosse suficiente infernizar a vida das mulheres, o fantasma da depilação também vem tomando conta das rotinas de alguns homens, aqueles que os ~másculos~ enchem o peito para chamar de viadinhos. O que me leva ao seguinte dilema: por que as mulheres que não se depilam são tachadas de sujas e os homens que se depilam, de mulherzinha? Por que mulher se depilar é certo, e homem se depilar é errado? Por que uma vagina carequinha é bela e um saco pelado é feio?

    Essa mania de ultravalorizar os esforços femininos em prol da ~beleza~ e hostilizar quando um homem faz o mesmo é fruto de uma cultura que trata o masculino como primitivo e legítimo e o feminino como objeto de desejo e de decoração.

    Em uma conversa com um grupo de amigos, ouvi alguém dizer que a depilação está em voga por causa de estímulos visuais. Que olhar uma buceta raspadinha é mais agradável do que olhar uma peluda. Eu só lamento, porque tudo o que vejo nesse tipo de discurso é uma ode à padronização. Como se fôssemos produtos fabricados por uma máquina e sujeitos ao descarte ao sinal da menor diferença – que, muitas vezes, é considerada um defeito. E aí vejo um retrocesso. Porque propor a padronização da vagina perfeita é tão vintage quanto o preconceito.

    Ainda assim, a esperança é a ultima que morre. Por isso, me apego ao amor aos meus pelos e aos dos outros para quebrar três mitos sobre os tão indesejados cabelinhos.

    1. Mulher que tem pelo é suja.

    É muita tolice acreditar que pelos são sinônimos de falta de higiene. Muito pelo contrário. Os pelos foram feitos para a proteção do corpo, e a chance de se contrair alguma doença causada por um micro-organismo nocivo é bem menor quando se mantém com carinho os pelinhos.

    2. Depilado é mais bonito.

    É questão de gosto, tem quem gosta e quem não gosta. Impor a depilação sobre pelos alheios que é feio. Portanto, se saiu uma vez com a menina e se incomodou com os pelos dela, pense duas vezes antes de apontar a não depilação dela como a causa para a coisa não fosse pra frente. Olhe para si mesmo e lembre-se que o preconceito, geralmente, é o que limita as relações humanas.

    3. Homem que é homem não se depila.

    O homem tem total liberdade para gostar ou não de seus pelos e não vai ser menos homem por optar pela depilação. Pelo contrário: estar disposto a aguentar a dor de uma cera é, talvez, um indício de coragem que nem todo homem tem.

    Por fim, a questão não é deixar ou não os pelos, mas sim respeitar as diferenças. E entender que pelo não é sinônimo de virilidade e que você não é Sansão, para perder a força conforme abre mão dos seus cabelos.


    " Todos os nossos conteúdos do site Casal Sem Vergonha são protegidos por copyright, o que significa que nenhum texto pode ser usado sem a permissão expressa dos criadores do site, mesmo citando a fonte. "