“Já comi!” Eis a frase mais imbecil que já ouvi numa mesa de bar – dentre tantas frases imbecis que se escuta nas noites da vida. O sujeito era daqueles que saem para impressionar: Uma camisa que estampava um jacarezinho, uma barba moderna, as chaves do carro penduradas na cintura e uma cerveja importada sobre a mesa.
Pensei em quantas vezes já devem ter dito de mim. E de você, da sua mãe, da sua melhor amiga, de qualquer mulher que já foi “comida” alguma vez na vida.
Lembrei de quantas vezes já notei homens com pulmões inflados e olhar pomposo ao segurar uma bela cintura fina ou abraçar a dona de uma bela bunda. Seus olhos sempre diziam: “É minha. Veja como eu dou conta de uma mulher como esta.”
E, veja bem, isso não me irrita. Fazer sexo não é vergonhoso ou condenável. E se você comeu, ela provavelmente te comeu também – e daí? Isso não interessa ao seu colega de trabalho, ao seu companheiro de balada ou à pessoa que está sentada na mesa ao lado em um bar e não está interessada em conhecer a sua vida sexual. Esse tipo de comportamento só me faz constatar, com pesar, como a maioria das pessoas já não sabe simplesmente sentir prazer.
Mais do que apontar a mira da moralidade sobre a coisa mais natural do mundo – isso que seus pais fizeram pra te gerar e que você faz entre quatro paredes (ou não), se gabar por ter transado com alguém demonstra uma total incompreensão sobre a verdadeira essência do sexo – que é, tão simplesmente como tudo deve ser, desfrutar. Trocar energia íntima, fluidos, experiências. Viver o que está para ser vivido.
Sexo virou briga de egos, exatamente como quase tudo no mundo moderno: Quem pode mais, quem come mais, quem goza mais. Corpos passaram de fontes de prazer a troféus brilhantes com belas bundas ou belas barrigas de tanquinho. Deixamos de transar para o nosso próprio gozo: o mundo moderno faz sexo para impressionar.
E é por isso mesmo que retiro mãos orgulhosas de minha cintura e saio à francesa todas as vezes em que capto qualquer resquício de ~orgulho~ de alguém por ter se relacionado comigo. Meu corpo não é um troféu. Ele quer pura e simplesmente a mesma coisa que o seu deveria querer: um prazer que se baste.