• Será que é só carência? – Por que  casamento não é pra todo mundo
  • Será que é só carência? – Por que


    casamento não é pra todo mundo


    Não é que eu seja contra casamento. Não me entendam mal. É que entrei numa onda de questionar essas convenções sociais, e querer entender até onde elas nos fazem felizes ou frustrados para sempre…

    Ninguém casa para separar. Mas quase 50% dos casais se separam com menos de nove anos de união. Percentual assustador, se partirmos da ideia de que as juras de amor de um matrimônio incluem a perspectiva de “até que a morte nos separe”.

    Até que a morte no separe é muito tempo. É tempo suficiente para que a convivência desgaste, o encanto seja inundado pela monotonia da rotina e as mudanças transformem marido e mulher em dois estranhos, que mal reconhecem no outro a pessoa com a qual escolheram casar. Eu sei, não é regra. Mas imagino que seja essa a realidade de pelo menos metade dos casais. E as estatísticas não me deixam mentir…

    A outra metade, que consegue equilibrar com maestria a relação, e fazer com que o prazer de estar junto seja duradouro, merece aplausos. Não é tarefa fácil.

    Casar é dividir cama, lençol, banheiro, contas, problemas e até genes. É ter que dormir e acordar junto, ainda que os roncos incomodem. É trocar carinho, colo e também farpas. É se despir, e mostrar tudo de pior que há dentro de nós – o melhor certamente já foi exposto de forma bem exibida, no momento da conquista. É tecer amor incondicional, que ultrapassa a superficialidade do desejo. É ter sempre alguém para dividir alegrias e tristezas, e nunca se sentir sozinho.

    Nunca se sentir sozinho? Nunca também é muito tempo! Que me perdoem os carentes ortodoxos, mas que alma nesse mundo consegue sobreviver sem um pouco de solidão? Quem aí arrisca dizer que nunca, nem por um momento, quis teletransportar para uma ilha deserta? Nem precisa ter areia e mar, basta um quarto próprio, closet exclusivo e banheiro individual. Um espaço onde cada pessoa possa exercer suas próprias manias, sem torturar o respectivo cônjuge. Nos dizemos tão modernos, mas até agora não fomos capazes de inventar casamentos que viessem acoplados do dispositivo “escape”.

    A gente casa por amor, por vontade de construir uma vida a dois, de unificar famílias e criar uma própria. Ninguém casa porque se sente sozinho no banheiro, na hora de exercer as necessidades físicas. Nem porque sentem falta de uma cueca espalhada pelo tapete ou uma calcinha pendurada no box. Pode até ser que na maioria dos dias a presença do outro se faça necessária durante o sono, para cumprir o famoso ritual de dormir de conchinha. Mas duvido muito que nos 365 dias do calendário a vontade seja ter companhia na cama. Vez ou outra, todo mundo tem insônia, e precisa ascender a luz, ligar a televisão, escutar um mantra… Sem contar nos dias em que marido e mulher querem se matar, e são obrigados a disputar a ponta do edredon.

    Não faz sentido privar as pessoas da sua individualidade porque escolheram construir família juntas. A mim, soa quase como castigo. É o preço que se paga? Então sou a favor de um movimento revolucionário, para destituir qualquer punição que venha da escolha de acasalar. Para cada casal que escolher juntar os trapos, dois quartos, dois banheiros e dois armários, por favor!

    Que dormir abraçado seja uma opção, e que nos dias de stress a ausência do outro se faça notar durante a noite, trazendo saudade e acalmando as ânimos. Que cada um tenha seu banheiro, sua bagunça, e possa desafinar o quanto quiser debaixo do chuveiro. Nada impede que, vez ou outra, o banho também seja unificado. Que toda mulher tenha direito a um espelho próprio, para poder trocar de roupa quantas vezes quiser sem aturar a indignação masculina. Que não se perpetuem as brigas por causa da temperatura do ar condicionado, pelo canal da televisão e pelas toalhas em cima da cama. Cada um no seu quadro, e os dois sob o mesmo teto.

    Aos demais casais, explico: não é uma crítica ao tradicional modelo milenar de convivência. Admiro muito quem consiga driblar os contratempos do excesso de intimidade. Mas eu, como ser imperfeito e maniático que sou, precisei inventar um modelo inovador. Caso contrario, acho que cairia naquele velho papo pessimista de que “casamento foi feito para dar errado”.


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