Um domingo qualquer. Abri os olhos e logo senti que a minha boca estava estupidamente seca e que a minha cabeça parecia pesar mais de uma tonelada. Porém, mesmo sob o efeito quase incapacitante do álcool e de uma noite inteira dançando Anitta, ao olhar para o lado, arrumei forças para visualizar dois objetos não identificados: uma garrafa vazia e sem rótulo e uma mulher nua e sem identificação.
Com a garrafa eu não me preocupei, afinal, apesar de me estar me sentindo à beira da morte, eu ainda estava vivo. Já com a mulher, eu confesso: fiquei muito preocupado. Você não tem ideia do quanto eu desejei que houvesse um crachá preso àquele mamilo que apontava para o teto. Mas não havia nada. Era apenas um corpo estranho sobre o meu lençol. Eu não sabia qual era o nome daquela que, mesmo na penumbra, demonstrava sinais claros de feiura e um bafo capaz de derrotar exércitos. Foi aí que a coisa começou a piorar, pois o ser que estava esparramado ao meu lado, do nada, iniciou uma violenta sinfonia de roncos. Juro que fiquei com medo dos vizinhos reclamarem daquela ópera de porcos.
Eu só queria sair correndo dali. Entretanto, sabia não podia deixar aquela desconhecida em minha casa. E se ela fosse uma ladra? “Que merda!”, gritava enquanto olhava para aquela máquina de roncar. Por um breve momento torci para que ela morresse de causas naturais. Se isso acontecesse, eu não precisaria inventar uma desculpa para expulsá-la. Eu apenas informaria o óbito e, enquanto os legistas estivessem se desfazendo do presunto, eu iria para a casa da minha avó para comer frango com macarronada. Meio dia e nada do ser esboçar qualquer sinal de que estava saindo do modo hibernação. “Que merda!”, gritei novamente. Foi aí que o pior do pior do mundo aconteceu: como uma sucuri traiçoeira, ela me deu um bote rápido e, antes que eu pudesse me defender, envolveu-me com um dos braços.
Aquele movimento, no jiu-jitsu, com certeza valeria alguns pontos. A doida me prendeu e, com a boca próxima ao meu nariz desprotegido, disse: “Bom dia, amorzinho.” Aquilo foi extremamente agressivo. Aquele bafo de “Trident de Gorgonzola”, instantaneamente derreteu os pelinhos das minhas narinas. “Amorzinho? Era só o que me faltava!”, pensei, enquanto segurava a respiração e pensava em uma forma de me desvencilhar daquela mulher constritora que, para piorar ainda mais a situação, com a outra mão tinha começado uma estranha massagem nas minhas bolas. “Você adora isso, né seu safado?”, ela dizia enquanto manipulava, com total displicência, as minhas bolas doloridas por um passado que eu não conseguia lembrar.
Por sorte o telefone tocou. Era meu amigo Johnny. “Alô. Não acredito! Como isso aconteceu? A vovó? Não pode ser! Um coice de cabra na cara? Enquanto ela ordenhava? Não pode ser! Estou indo pra aí agora! Não, pode ficar tranquilo, vovô. Eu não demoro”, disse enquanto o Johnny, do outro lado da linha, não parava de perguntar se eu havia usado drogas. Achei que aquilo bastaria, mas, assim que olhei para o lado, percebi que a “Bafo do Banheiro Químico” tinha desatado a chorar. Ela soluçava. A maquiagem estava ainda mais borrada e ela, a cada lágrima, enfeava mais. “A minha avó que morre e você que chora?”, perguntei para a doida. “A sua avó? Esqueceu que sou sua tia e que ela me aceitou feito filha?”, ela disse.
Foi aí que tive um flashback quase lisérgico da noite anterior. Lembrei-me de um casamento. Meus tios com gravatas amaradas na cabeça. “I Wll Survive” sendo tocada por uma banda composta por gordinhos simpáticos. E… Não pode ser! Aquela era a filha que meu avô teve fora do casamento e que só no casório da noite anterior havia sido apresentada à família. Não acredito! Aquele ser do meu lado era a Geraldina, filha do meu avô com uma colhedora de café que tinha sido acolhida, como filha, pela minha avó extremamente religiosa. Depois disso, só consigo lembrar da minha mão adormecendo e da minha respiração falhando de verdade. Enfartei. Sabe como é, né? Mas pelo menos me livrei da Geraldina.
E, se quer saber, além daquela confusão toda ter me feito repensar na vida que quase deixei, não consegui parar de pensar nos riscos do sexo casual movido apenas pelo tesão. Na hora do bem bom, até mesmo com a Geraldina, pode ser prazeroso. Porém, no dia seguinte, o clima pode se tornar algo insuportável. Já passei por outras, não tão ruins como aquela que quase me levou a óbito, mas suficientemente torturantes para me fazer chegar à seguinte conclusão: mesmo o sexo casual, é muito melhor quando existe alguma afinidade, qualquer que seja, entre você e a parceira. Algo que permita uma conversa enquanto você veste as calças ou até, na melhor das hipóteses, umas risadas enquanto vocês se lembram da noite passada. Se não houver nada além do tesão, existe um imensa chance do dia seguinte ser algo torturante. Probabilidade que diminui bastante quando existe um acordo claro e honesto entre as partes. “Que tipo de acordo, Ricardo?”, eu ouvi alguém perguntar. Um acordo sincero e capaz de evitar que qualquer uma das partes confunda as coisas e queira, em um ato de melosidade, forçar uma conchinha, um “amorzinho” ou qualquer tipo de extensão desnecessária para aquele que deseja apenas transar. “Mas isso não é muito cruel?”, perguntarão. Não acho! Cruel é matar os animais para fazer bolsa. Cruel, de verdade, é gozar e ter que incendiar um motel para se livrar de alguém que, graças a um acordo nebuloso e cheio de entrelinhas, já acorda chamando você de “benzinho”.
Já que algumas pessoas não se transformam em temakis após o gozo – o que seria ótimo! –, o ideal é jogar limpo e deixar claro que você está lá para o sexo e que depois partirá. E cabe ao outro aceitar essa condição. “Nossa! Que atitude machista!”, alguns dirão. Machista? Quem disse que uma proposta honesta como essa não pode ser feita por uma mulher? O importante é que nenhum dos dois tenha falsas expectativas e, graças a elas, frustre-se quando perceber as intenções puramente sexuais do parceiro. “Nossa, como você é insensível!”, alguns dirão! Insensível? Tem dias que nós – homens, mulher, gays, alienígenas e capivaras – queremos apenas prazer sexual e desprovido de vínculos emocionais. E, quando isso acontece, a solução mais justa é achar um P.A (Pau Amigo) ou uma B.C (Boceta Camarada). Ou seja, parceiros com os quais podemos abrir o jogo e que estão totalmente cientes da relação de troca em que estamos dispostos a nos enfiar. Se ainda não encontrou o seu amigo sexual sem frescuras e com o modo conchinha desativado, recorra ao vibrador. Com ele não tem erro: você usa, abusa, goza e o tranca na gaveta.