• Não seja engolido pelo mundo –  Ou o que você já deveria ter feito
  • Não seja engolido pelo mundo –


    Ou o que você já deveria ter feito


    Você deveria perder alguns quilos. Você deveria arranjar um namorado logo. Você deveria fazer uma faculdade que dê dinheiro. Você deveria agradecer por ter um emprego com estabilidade. Você deveria. Você deveria. Você deveria. Todo mundo sabe como administrar a sua vida, menos você. Especialmente se você tem 20 e poucos (ou tantos) anos. Mas não só.

    Se você fez 30 anos, então deveria ter comprado seu próprio apartamento. Ou deveria ter sossegado e arranjado um namorado fixo antes. Afinal, você já deveria estar se casando a esta altura. Se você tem quase 40, então deveria ter se programado pra ter filhos. Até porque ninguém é completo sem filhos, certo? Aliás, se você é mulher, então…

    Você deveria emagrecer. Você deveria se arrumar mais. Você deveria fazer a unha de vez em quando. Você deveria se dar mais valor. Você deveria sair pra beber menos, não é mais uma adolescente. Você deveria tomar cuidado com o tamanho da sua saia, do seu decote. Você deveria conciliar melhor sua carreira com a sua vida pessoal. Você deveria saber que as coisas são assim e pronto. Quem mandou dar bola pro cara? Ajoelhou, tem que rezar. Você deveria. Você deveria ser menos você.

    A única destas tentativas de doutrinar a sua vida e decidi-la no seu lugar que você ~deveria~ aproveitar é uma das mais clássicas: você deveria se dar ao respeito. Deveria mesmo. Mas se respeitar não é isso que dizem por aí, não. Respeitar a si mesmo é saber se ouvir, é encontrar quem você é, é prestar atenção no que você está pedindo. Porque o respeito é seu direito, ninguém tira. Portanto:

    Você deveria ficar mais em silêncio. Ouvir quem está aí dentro e seguir o que essa pessoa quer, o que ela precisa pra viver, o que vai fazer diferença na vida dela. Você deveria lembrar-se uma vez por dia que quem decide seu caminho é você, que as rédeas da sua vida são preciosas demais pra entregar assim na mão dos outros. Especialmente quando este outro é tão abstrato – é a sociedade, é o mundo, é essa selva aí fora que insiste que você viva como eles querem, frustrado, infeliz, mas com todos os requisitos de cidadão respeitável e ~do bem~ que podem ser preenchidos.

    Você deveria saber que ser feliz não é nada fácil. Ainda mais porque envolve se amar, envolve auto-estima, envolve mimar-se todos os dias, respeitar seus próprios limites, gostos, vontades e necessidades. Mas você deveria aprender, antes que seja tarde, que a única maneira de ser feliz é deixar de ser quem você deveria ser – e passar a ser quem você é, custe o que custar.


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