• Você namoraria alguém sem Facebook?  – O que a tecnologia faz com a gente
  • Você namoraria alguém sem Facebook?


    – O que a tecnologia faz com a gente


    Não trabalho com essas coisas, ele diz, bem humorado, quando alguém lhe pergunta sobre perfis, inboxes e outros dáblio-dáblio-dáblios que ele não tem. Não tem. Nem Facebook, nem Twitter, nem Instagram. Nem os finados Orkut e MSN. Nunca teve. Nadica de nada. E querem saber? Melhor assim. Bem melhor assim. E não. Não digo isso – só – por causa do clássico, chatíssimo e infundado problema do “quem é esse babaca que curtiu a sua foto?” ou “quem é essa vadia que comentou que está com saudade?”.

    Digo isso porque se relacionar com alguém sem a muleta das mídias sociais é um verdadeiro exercício de vida e de convivência. Não que o seu amor mediado por uma tela não seja amor. Ou seja fácil. Longe de mim dizer isso. Acho supersaudável que você e a sua namorada mostrem peitinho na webcam quando a saudade e o tesão apertam. Que você, vez ou outra – veja bem, vez ou outra –, escreva um recadinho carinhoso na timeline dele pra demonstrar que pensa nele. Que vocês postem fotos do último final de semana no sítio pra compartilhar com a galera momentos de alegria – isso eu também faço às vezes, mas só quando tô gatinha na foto. Que vocês conversem via inbox pra resolver aquilo que ficou pendente na noite do domingo.

    Quando a gente é mediado – por qualquer coisa que seja – os sentimentos chegam distorcidos até nós. A raiva, pela internet, é menos raiva – porque você não vê aquele tique insuportável que ele tem de piscar os olhos e contrair a boca simultaneamente quando está tentando medir as palavras. Ou é mais raiva – porque vocês estão impossibilitados de se compreender nas feições compartilhadas de tristeza. O amor, pela internet, é mais amor – porque você morre de saudade naquele esforço vão para se lembrar do timbre da risada dele. Ou é menos amor – porque o que sustenta mesmo a relação de vocês é aquela retroalimentação de suor que rola na cama, no banheiro, no banco do carro. Quando a gente conversa e demonstra o que sente pela internet, quase nunca fica na medida – ou é demais, ou é de menos.

    Por isso, tentar não depender tanto de toda essa tecnologia pode ser um bom exercício de vida. Quando a saudade apertar, pegue o telefone e ligue. Ouvir como foi o dia do outro, com todos os suspiros de alegria e de desgosto, é mais gostoso do que ler mil mensagens inertes de Whatsapp. Quando o tesão apertar, pegue o carro, a moto, o ônibus, o metrô, o trem, o avião ou simplesmente as chaves de casa e espere por ele no portão. Nada paga um sexo bem feito para matar um desejo bem vindo. Quando quiser demonstrar o quanto gosta dele, escreva um bilhetinho simples – à caneta Bic, com dois versos daquela música do Caetano ou com qualquer coisa que o seu coração queira gritar. Dizer que ama de próprio punho é que nem matar a facadas e esquartejar o cadáver – a gente só faz se tem determinação e um pouquinho de certeza do que está fazendo. Quando quiser postar uma foto de vocês, poste-a (também) no mural do seu quarto, que é pra dar aquela olhadinha com saudade todos os dias antes de dormir.

    Usar a tecnologia para encurtar as distâncias físicas é bom. Mas dispensá-la para vencer obstáculos emocionais pode ser melhor ainda.


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