• Por um mundo onde pessoas cuidem mais dos  seus umbigos – e não dos umbigos alheios
  • Por um mundo onde pessoas cuidem mais dos


    seus umbigos – e não dos umbigos alheios


    Começa cedo, sem que percebamos, pode ser com a mamãe dizendo –come filho, come pra mamãe ficar feliz. E comemos emoções, frustrações, seja para agradar, seja para preencher, ou para desobedecer. Pensando socialmente, ser gordo não é fácil; num momento importante em que se discutem diversos tipos de preconceito, esse é pouco abordado mesmo se tratando de uma agressão imensamente comum e moralmente dolorida.

    A gordofobia pode funcionar como mais uma variação especifica e pontiaguda do machismo. Quem nunca ouviu um comentário do tipo “quer ser vagabunda tudo bem, mas pra vestir roupa justa esteja ao menos magra”, mais um daqueles pensamentos que objetificam e reforçam estigmas. Esse tipo de opressão pode também acontecer da forma mais sutil possível, como por exemplo o seu amigo magro resolver “por acaso” se pesar na sua frente, porque né, ele nunca passa em frente a uma farmácia. A pressão em cima de uma pessoa gorda é tão agonizante que muitas vezes ela só se sente bem quando vê alguém mais gorda do que ela.

    Não é bacana perceber que 98% das lojas, não possuem roupas no seu tamanho, e não é porque você é uma aberração, mas porque o tamanho GG veste apenas alguém mais robusto do que um magro fazendo com que você se sinta inadequado. Não é bacana ouvir uma pessoa se referir a outra como “aquela gorda” e depois justificar que “você tudo bem porque não chega a ser obeso” como se você fosse uma representação menos grave de “ser gordo”. Não é bacana ficar reparando se um gordo repete ou não o prato, isso é constrangedor e deselegante.

    Não é agradável ouvir sermão dos outros com o complemento de que a bronca “é pro nosso bem”. Existe tanta coisa que em excesso faz mal – anabolizante, café, sal, por exemplo – e ninguém fica ali de vigília contribuindo para que o outro se sinta esteticamente incorreto. O que eu quero dizer com isso, é que a lógica do “não” se cuidar não é uma patente de quem possui uma aparência gorda. Essa intensa pressão e imposição em relação ao corpo alheio, é na verdade uma invasão, um convite para um jogo em que nunca seremos bons o suficiente. E eu não estou aqui fazendo apologia a nada, vivo de promessas de segunda-feira, vivo moldado ao efeito sanfona, sou mais um opressor e ao mesmo tempo uma vítima (agora mais questionadora) dessa imposição vinda de uma indústria altamente impiedosa. Geralmente um gordo quando pressionado come mais para se agredir, para confirmar uma tese.

    Comer demais nem sempre tem a ver com preguiça; envolve mecanismos psicológicos como compensação, culpa, punição, esconderijo. Não pense você que a gordofobia é exclusividade dos magros, é muito comum um gordo paradoxalmente rejeitar o outro, justamente por se odiar esteticamente e a partir dai projetar sua baixa auto-estima. A maioria dos gordos não se sente confortável nessa situação e se pudessem escolher optariam por um padrão físico que acarretasse menos opressão, mas existe um monte de gente gorda que esta feliz assim, e quem é você pra interferir?

    Muito comum também são pessoas que emagreceram e passam a agredir quem é gordo cometendo um tipo de bullying chamado “bodyshaming” com quem não está na mesma situação. E vamos ser razoáveis: é muito raro alguém realmente emagrecer por saúde, lá no fundo sabemos que dietas radicais são oriundas de pressões estéticas que culminam em soluções imediatistas como os remédios inibidores de apetite.

    Não vou aqui entrar no mérito cientifico, mas acho simplista e equivocado atribuir o saudável sempre a magreza. A questão é respeitar a liberdade alheia. A dica é nunca achar que o outro deve seguir o seu mundo ideal. A frase fica tão melhor assim:  “trate o outro como o OUTRO gostaria de ser tratado”.


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