O início de um relacionamento é mais ou menos como tirar férias: depois de um certo período vivido (trabalho, faculdade ou a muitas vezes tortuosa vida de solteiro) chega a recompensa e tudo parece felicidade e alegria. Assim como nas férias, o Sol parece brilhar mais forte e toda noite é uma boa oportunidade para curtir até o dia amanhecer (seja na rua ou debaixo das cobertas, com o Netflix aberto).
Que atire a primeira pedra aquele que, no início de um namoro, não relevou os pequenos defeitos e manias de seu parceiro. Se ela (ou ele) demora uma eternidade para se arrumar, tudo bem – a pessoa só está querendo ficar bonita para sair com o novo amor; os cinquenta cigarros que ela fuma diariamente deixam-na charmosa, e aquela mania de escolher o programa do final de semana no último momento possível é reflexo de sua espontaneidade – alguém que gosta de “curtir o momento”. Aqueles que se arriscam nos campos da paixão e do amor acabam se confrontando, cedo ou tarde, com uma triste realidade: essas pequenas coisas podem se tornar verdadeiros incômodos quando a rotina aparecer – e ela sempre aparece. De repente a demora para se arrumar irrita, o cheiro do cigarro torna-se insuportável e escolher entre uma balada ou uma sessão de cinema torna-se uma discussão hercúlea (que pode definir o rumo e o humor dos próximos dias).
Erra quem coloca a culpa na rotina. Se assim fosse, a taxa de casamentos bem sucedidos cairia a zero e todos nós viveríamos uma eterna poligamia (o que não é uma ideia tão absurda assim, mas não é isso que está sendo discutido aqui – hoje). Culpo, em parte, nossa própria geração por essa infelicidade que acomete muitos de nós. Para explicitar um pouco essa teoria (ainda pouco desenvolvida, se me permitem o parênteses) gosto de utilizar, como exemplo, a própria internet. No dia de hoje você irá ler um sem-número de postagens no Facebook, artigos em portais de notícia e terá acesso a uma infinidade de informações – que, no final, serão esquecidas no dia seguinte e substituídas por mais bytes e bytes de textos, imagens e pensamentos.
Esse, sozinho, não é o problema. Sou um entusiasta da internet e de como estamos conectados a tantos lugares e pessoas, convivendo em (nem tanta) ordem e espalhando (algum tipo de) conhecimento. Se dissesse o contrário estaria indo contra meus próprios princípios, afinal de contas: acredito que quanto mais interações temos com outras pessoas – independente da forma como isso acontece -, fica mais fácil conhecermos a nós mesmos. Precisamos preencher a folha de papel das nossas almas com alguma coisa para depois descobrirmos o que as palavras ali escritas realmente significam para nós.
A coisa fica ruim, porém, quando não sabemos o que queremos consumir e quem queremos ter por perto – já que, no fim do dia, podemos consumir quase tudo e ter quase qualquer pessoa. Essa grande oferta pode causar preguiça, no fim das contas: se o mar é tão vasto e têm tantos peixes, por que ficar preso numa relação com essa pessoa que não é perfeita pra mim?
Desculpa quebrar sua expectativa, mas não existe pessoa perfeita – nem relacionamento perfeito.
Se você acabou de começar um namoro, saiba que as coisas vão mudar. Se já namora há algum tempo, deve ter percebido que as coisas já mudaram – e isso não é necessariamente ruim. Honestamente, pode ser bom pra cacete. Lembra daquela vez que você foi transar e foi uma merda porque a outra pessoa não sabia acompanhar teu ritmo nem entrar na tua pegada? Agora você tem alguém que tem (espero eu), como uma prioridade, te dar prazer e não vai (espero eu) se importar nem um pouco de descobrir como fazer isso da maneira que você gosta. Lembra quando você tinha algum problema e não queria encher seus amigos com isso porque eles estavam ocupados demais com suas próprias coisas? Ao seu lado existe, agora, uma pessoa que se preocupa com sua vida e quer te ajudar a lidar com aquilo que te aflige – mesmo que essa ajuda venha com silêncio e cafuné.
Entrar numa relação séria e duradoura é assumir que grandes mudanças irão acontecer e que sua rotina não dependerá só de você. É fazer concessões e abrir mão de certas coisas enquanto a outra pessoa faz o mesmo – não por obrigatoriedade, mas porque ela quer. É enxergar beleza em pequenos defeitos e, sempre que possível, lembrar que aquele par de olhos e aquele sorriso doce continuam tão (ou até mais) bonitos que na primeira vez que você os viu. É saber que não vai ser fácil, mas que vale a pena.
Não estou dizendo que a monotonia não é perigosa: ela é, e muito. Mas não adianta pensar que a única solução para salvar um relacionamento em perigo é inverter a maneira como tudo funciona – fazer isso é trocar o lado de um disco sabendo que, hora ou outra, você precisará voltar para o primeiro conjunto de faixas. O que eu sempre tentei quando os primeiros sinais de cansaço se evidenciam é fazer uma retrospectiva desse álbum chamado amor e perceber que ainda é meu disco favorito. Relembrar alguns acordes, riffs e refrãos e me dar conta que ainda sei todos de cor, e essa é uma coisa boa.
Se você tem alguém, pense agora nessa pessoa. Se a rotina não te amedronta, se crescer ao lado dela é algo excitante ao invés de entediante, se combinar uma maratona no Netflix parece mais interessante do que se esbaldar na balada mais próxima – ou se vocês conseguem se divertir igual antes e dançam juntos até o chão -, parabéns: você está num relacionamento saudável e sabe que tudo que já enfrentaram – e ainda enfrentarão – vale a pena.
Se você ainda não encontrou essa felicidade de verdade (nem a sua própria vontade de ter uma relação duradoura), não se desespere: a parte boa do amor é que, diferente daquilo que Hollywood e a literatura-clichê pregam, sempre podemos evoluir e tentar novamente – desde que você tente, a cada nova experiência, pra valer.