Todo mundo fala sobre como a cama parece grande nesses momentos, mas você nunca vai saber realmente até acontecer com você. Acontece que a cama fica enorme quando se acorda sozinho pela primeira vez depois do término. E é péssimo, posso te garantir. Tantas vezes, enquanto estávamos juntos, eu reclamava para mim mesmo da falta de espaço, da escassez de momentos sozinho, mas agora tudo o que eu queria era que tivesse alguém aqui para preencher esse espaço enorme que ficou no colchão, para fazer barulho e quebrar esse silêncio cruel do quarto, para me roubar as cobertas, para me dar beijinho de bom dia, para espalhar os cabelos pelo travesseiro e dizer que não está nem um pouco afim de levantar. Vendo a cama assim enorme tudo o que eu queria era você.
Mas se fosse só a cama desproporcional estava tudo bem, eu dava um jeito de me acostumar, mas acontece que está um dia lindo lá fora. O sol entrando forte pela janela, vencendo as cortinas a todo custo e pintando todo o quarto de amarelo. Eu adorava ver você nessa luz, dar de cara com o seu sorriso nessa espécie de filtro de Instagram natural, fazer planos de coisas boas para curtir em dias bonitos, ir ao parque, talvez, vez uma exposição, fazer um churrasco com alguns amigos… tanto fazia. Eu não me lembro se te disse isso enquanto a gente estava junto, mas eu adorava fazer planos com você, me divertir com você, programar coisas para um dia inteiro com você. Hoje, nesse primeiro dia de solidão, não faço a menor ideia do que está passando no cinema, de quem está expondo no MASP, de qual é a feirinha mais bacana da cidade nessa semana. Hoje meu programa preferido seria você.
Acabei de perceber que não sei o que fazer nem no próximo segundo, imagine durante o dia todo. Acordar solteiro, assim, logo de cara, tem desses sintomas estranhos. Não consigo pensar no café da manhã, nem nas compras que tenho que fazer, nem se tenho que fazer compras. Não sei para quem ligar. Não sei para onde eu vou depois de levantar. Não sei o que eu vou fazer com o resto do dia, da semana, do mês, do resto todo do tempo, porque eu tinha combinado comigo mesmo que pra tudo eu ia pedir a sua opinião, a gente ia decidir juntos sobre o nosso futuro. É que agora o “nosso” futuro virou só meu e eu tinha feito reservas para dois em quase todos os episódios da minha vida. E agora, o que eu faço com a cadeira vazia no Terraço Itália, que era onde eu sonhava em te pedir em casamento? O que eu faço com a poltrona vazia no avião indo pra Tulum, naquela viagem que a gente planejou? O que eu faço agora?
Não sei mais nada. Ser largado tem dessas. A gente de repente esquece de tudo, até do próprio nome, como se o outro, quando vai embora, levasse parte das nossas memórias junto. Fica, no lugar das coisas que sumiram, um aperto estranho, quase como uma falta de ar e uma vontade estranha de se lamentar pelas coisas que não têm solução. É muito complicado esse sentimento. A sensação da solidão ainda não veio, deve chegar nos próximos dias, ou horas. Acho que é sobre isso que as pessoas falam quando dizem que “ainda não caiu a ficha”, é sobre essa falta de alguém ao mesmo tempo em que existe a falta de sentir falta de alguém. Por enquanto é só um estado estranho, uma confusão mental, um sentimento de culpa por alguma coisa sem nome e o espaço físico que antes era ocupado por você, mas me avisaram que vai piorar. Parece meio maluco tudo isso, né? Eu sei, desculpa, é que faz cinco minutos que eu acordei e hoje é o primeiro dia sem você. Acordei sozinho, fodeu, e você sabe, eu não sei resolver muito bem as coisas sem a sua ajuda.