Estou pensando em você e quero te ver, embora neste horário deva estar aflita, roendo as unhas, com pouca concentração na tela do computador. Admito, preciso de você, só de você, de qualquer jeito. Chateada, fechada ou briguenta. Nem que seja pra compartilhar o silêncio, um cigarro, uma vitamina de morango com sorvete ou uma música do Richard Ashcroft que lembre nós dois. Mas preciso de você. Qualquer você.
Você de doce, implicante, mexendo nas gavetas e reclamando da falta de roupas novas para sair comigo. Ou você alegre, me jogando no sofá como se eu fosse o seu poodle de estimação ou uma almoçada indiana. Sei lá. Invada a minha sala, o meu trabalho, o meu jeans e a minha camisa de botão. Mas, peço que se demore por aqui. Me traga uns beijos na testa, umas mordidas no canto da mão e umas lambidas na cara de quando queria me irritar na frente dos nossos amigos. Se você voltar, traga aquele livro do Manoel de Barros que roubei na Bienal só porque você o queria muito, mas estava muito além do meu orçamento. Sinto falta daquelas poesias. Sinto falta de você naquelas histórias. Sinto falta das nossas loucuras. Sinto falta de você, de mim e de nós.
Vez em quando, proponho a mim te esquecer. Ai, logo após uns segundos, lembro uns risinhos seus e daquelas ajeitadas de cabelo que balançavam meu mundo inteiro e acabando esquecendo o que me propus. Noutros momentos, tenho vontade de te sacudir só para tentar roubar segredos de como conseguiu me esquecer assim tão fácil. Em que médico foi? Qual remédio tomou? É comprimido ou em gotas? Quantas vezes ao dia? Fez quimioterapia? Banho de sal grosso? Vejo o seu sorriso por aí e teus dentes gritam que já não sou mais inquilino do teu corpo. E eu que já te vomitei como um alcoólatra em dia de porre, cada vez mais sinto você aumentando aqui dentro nesta gravidez eterna.
Mas logo mais, quando a noite chegar e o frio chato de Erechim for lhe fazer companhia, você sentirá que precisa mais de mim do que imagina. Vai jurar que não, mas no fundo, no fundo, assumirá a falta que te fiz nos seus dias. Vai dizer de todas as bandas novas que ouviu e pensou em colocar no iPod para ouvir junto comigo. Vai contar sobre as novas cidades que conheceu e sobre os cartões portais que me escreveu, mas não me enviou. Vai relembrar cada gargalhada que deu e que ficou triste logo após notar que não iria me contar o motivo da tua felicidade.
Eu tô com um tanto de novidades. Novos livros. Novos autores. Novos filmes me fazem chorar como uma menininha. Talvez, agora, lendo isso aqui ou perdida entre as vodcas e o novo CD do Angus and Julia Stone, você queira voltar. Volta. E a gente prova ao mundo inteiro que em um segundo de reencontro o nosso amor cura todas as eternas horas afastados.