Você está em um relacionamento sério. Pelo menos é o que diz seu status no Facebook. Aí um desavisado – que ou não sabe ler ou é só sem vergonha mesmo – te chama por inbox e te lança um xaveco. Daqueles tão escancarados que não dão a margem pra dúvida: ele quer você. O bom senso, a educação, a cartilha Caminho Suave e o respeito à pessoa que você escolheu para ser sua parceira a fariam afastar o xavequeiro inconveniente o quanto antes. Mas aí você pensa duas vezes: uma conversinha pela internet não tem problema. Afinal, toda mulher merece ser bajulada, né? E você dá trela para a conversa do recém-chegado. Papo vai, papo vem, ele diz que sempre te achou linda demais praquele namorado sem graça que você tem. Que você é a mulher que todo homem quer ter: inteligente, com personalidade, bonita. Que queria ir buscá-la em casa pra vocês tomarem uma cervejinha rápida de meio de semana. Você não aceita, mas continua toda ouvidos. Afinal, aquilo massageia tanto o seu ego… É quando você desliga o computador, já de madrugada, se olha no espelho, dá um beijinho no ombro e pensa: eu sou linda-maravilhosa-incrível-e-todos-me-querem. A sua autoestima inabalável lhe confere, entre os seus amigos, a alcunha de mulher confiante e segura.
E aí eu te digo: o mundo anda cheio de gente que precisa rever os gastos do mês. Mas mais cheio ainda de gente que precisa rever os próprios conceitos. Não que eu seja a dona da verdade absoluta ou o dicionário ambulante do comportamento humano e dos relacionamentos interpessoais. Porém, o que você cultiva não é, nunca foi e nunca será segurança propriamente dita. Você cultiva mesmo é um belo dum ego inflado. E pra você, não importa com qual gás você enche esse balãozinho – se é com o fôlego incansável de alguém que te ama ou se é com uma sopradinha daqui, outra sopradinha dali, de alguém que você mantém por perto só pra se sentir cobiçada. Afinal, lhe ensinaram que a gente se sentir bem sempre vem em primeiro lugar, certo?
Certíssimo. Mas até a página dois. Ou melhor, até a página que diz que depende do que você precisa para se sentir bem. Se é de um dia no parque, uma soneca no meio da tarde, sair pra dançar, uma latinha de cerveja, um sexozinho delícia, um arroz e feijão de mãe, um peito compreensivo pra recostar a cabeça, uma mão companheira pra apertar ou um corte de cabelo novo, tudo bem. O problema é que tem muita gente que precisa de bajulação pra se sentir bem. De cantada na balada enquanto o namorado vai ao banheiro. De continuar trocando mensagens engraçadinhas e insinuantes com o ex-peguete. Da gama mais variada de caras aos pés. Ou de pelo menos um step, que é o lugar pra onde correr ao primeiro trovão que pode indicar uma crise no relacionamento.
E esses artifícios, minha filha, me desculpe, mas não são artifícios de gente segura. Isso é coisa de gente que baseia a própria segurança na insegurança do outro. Que só está tranquilo num relacionamento quando o outro está sofrendo. Quando o outro liga vinte vezes por dia, tentando esconder, sob a inofensiva máscara da preocupação, a vontade de estar no controle. Quando o outro se desdobra em mil para fazer os caprichos do um, porque sabe que quaisquer quinze minutos de atraso praquele encontro poderiam colocar tudo a perder – afinal, tem mais gente querendo, né? Quando o outro demonstra ciúme – porque ciúme é o perfume do amor, não é mesmo?
E assim seguem os falsos seguros, se aproveitando da insalubridade dos relacionamentos e levando-os adiante com a condição de que a balança nunca esteja em equilíbrio. Seja por falta de amor-próprio, seja pelo desejo de sempre estar no comando, o falso seguro está aí, agindo como um sanguessuga e procurando a próxima vítima. O próximo fraco que vai lhe fazer se sentir forte. O próximo trouxa cuja insegurança lhe sustente a fama de autoconfiante. O próximo podium em que possa subir para se sentir valorizado.
Comigo não morreu.