Nojento, babaca, misógino, machista, criminoso, escroto, racista, violento. Desserviço à humanidade. Maior perdedor das boas oportunidades de ficar calado. Aborto malsucedido. Disseminador da cultura do estupro. Isso é Julien Blanc, um homem branco e heterossexual que, achando insuficiente toda a subjugação à qual as mulheres são expostas diariamente apenas por terem sido ~agraciadas~ geneticamente com uma dupla de cromossomos X, resolveu praticar e – pior – replicar para seguidores igualmente babacas suas táticas para ~seduzir~ mulheres com o uso da violência.
Confesso: eu era mais feliz antes de terça-feira, que foi quando eu soube da existência dele. Num ímpeto de curiosidade – ah, a maldita curiosidade – cliquei no link do vídeo abaixo e vivi três minutos de pleno desgosto. Em uma sala de aula, dezenas de homens estão sentados e compenetrados. No púlpito, um homem vestindo roupas da moda ensina a “arte da sedução”, gesticulando convicto e rindo enquanto profere
Tudo isso seria absurdo se não fosse previsível. E é justamente a previsibilidade o que torna essa história ainda mais triste. Porque a violência contra a mulher é comum. E acaba se tornando banal. Num dia, a gente é agressivamente segurada pelo braço na balada, mesmo depois de já ter demonstrado que não quer nada com o cara. No outro, a gente é vítima de uma passada de mão no aperto do metrô. No outro, 65% – ou 25%, depois de o Ipea ter admitido o possível erro – da população entrevistada acha que a gente merece ser estuprada porque está usando uma saia curta. No outro, o nosso salário cai na conta com um desconto de 28% só pelo fato da gente ser mulher. No outro, a gente é chamada de vadia só porque agiu em benefício do nosso próprio prazer.
E é por isso que a gente se une em coro pra gritar: fora, Julien Blanc. Suas táticas de ~sedução~ não são bem-vindas. Seu “head on dick” não é bem-vindo. Aliás, você não é bem-vindo. Se a gente pode importar tanta coisa boa, como um seriado de TV americano, uma macarronada italiana ou um perfume francês, por que é que a gente vai querer importar você? Lugar de misógino não é no Brasil, no Japão, na Austrália, nem em qualquer outro país do mundo. Lugar de misógino é atrás das grades.