Para você aprender a falar havia alguém que conversava contigo sem parar. Você emitia uns grunhidos estranhos, uns balbucios misturados com uma melequenta papinha cor de abóbora, e logo juravam que você estava quase dizendo “mamãe, você é a mulher da minha vida!” E, assim mesmo, você praticou com afinco.
Para você aprender a caminhar havia alguém que segurava as suas mãos e te seguia pela casa toda. Você não passava de um minibêbado, cambaleava mal e porcamente, e logo juravam que você estava quase pronto para ganhar o mundo. E, assim mesmo, você praticou com afinco.
Para você aprender a escrever havia alguém ao seu lado desenhando barriguinhas de vogais e chapéus e grampinhos como acentos. Você fazia um garrancho digno da Pedra de Roseta, e logo juravam que você seria um doutor. E, assim mesmo, você praticou com afinco.
Para você aprender a amar… Bom, aqui é que a roda emperra e a caravana para. Não sei quem foi que incutiu na nossa ideia de que sabemos fazer isso apenas por um instinto natural impresso nos cromossomos ou de que seriam desnecessárias as doses diárias de aprendizado ao longo da vida.
Não queremos praticar com afinco a educação sentimental e, por isso, chegamos para nos relacionar com ares de “sei-tudo-sobre-essa-coisa”. A verdade é que não sabemos quase nada sobre o amor. Confundimos as coisas e misturamos as estações, mas não damos o braço a torcer. Ninguém chega e diz pro outro: vou cometer um erro aqui e ali, provavelmente. Mas vou tentar de todas as formas fazer esse nosso amor dar certo.
Pena.
Perde-se muito por não saber/aprender a pedir desculpas. Perde-se muito por não saber/aprender a oferecer abrigo. Perde-se muito por não aprender a conversar sobre as junções e bifurcações das estradas percorridas. Perde-se muito por não inventar uma linguagem própria, um apelido fofo e constrangedor, por não saber/aprender a ceder, por não saber reinventar outro andar pelo mesmo caminho, por não querer revezar o içar das velas durante o tempo ruim. Perde-se muito em não encher a cama de risos, as manhãs apressadas de mais um beijo ardente, as tardes de uma gostosa preguiça a dois. Perde-se muito por muito pouco.
O bom é que nunca é tarde para aprender, basta olhar aqueles senhorzinhos de oitenta e poucos anos que criam coragem para entrar numa faculdade. Ainda há tempo para aprender. A metodologia? Observar, refletir, conversar, aprender a escutar, aprender a ceder, aprender a se impor, aprender que o outro é sempre um universo novo.
Afinal, aprender a amar alguém é desvendar um universo novo, cheio de possibilidades. E não há nada melhor na vida do que descobrir um universo até então desconhecido e pensar como conseguiu viver tanto tempo sem saber da existência dele.