Eu nunca quis um amor que fosse tudo que eu sempre quis. Sempre desconfiei de que perderia a graça, como eu poder escolher o final de um livro em vez de deixar que ele me surpreendesse, sabe?
Não entendo essa gente que quer amor por encomenda. “Um cara barbudo, bem humorado, que goste de aventura e seja limpinho. Pra viagem, por favor.” E a graça da vida – que são as surpresas – onde fica?
E o pior é que tem gente que leva isso mais a sério do que deveria. Idealiza o amor da vida e o primeiro desavisado que chega é imediatamente transformado na pessoa perfeita. A ânsia por projetar o outro é tão intensa que você até esquece de ver o outro como ele é – afinal, nós vemos as coisas como nós somos. Como nós queremos.
Mas aí fica perigoso. E se o cara não gostar de aventura e você esquecer que foi você quem inventou isso? E se a barba dele não crescer direito? A gente passa o resto da vida maldizendo o mundo porque o cara dos sonhos não chegou?
Eu não. Eu procuro um amor que saiba ser ele mesmo como ninguém, e que me deixe descobri-lo e amá-lo aos poucos. Ele pode até gostar de moda sertaneja, se for o caso. Pode detestar filmes franceses mesmo que eu ame – e pode ser interessante mesmo assim, juro. É que a autenticidade é a coisa mais afrodisíaca que eu conheço.
Desencana. Amar quem ama a si mesmo é o bom da vida. Queira um amor que saiba ser ele mesmo e não perca a graça de amar que é conhecer o outro. Saber – devagarinho – o que ele gosta de ouvir em um domingo preguiçoso, em vez de estabelecer que ele precisa gostar de ouvir los hermanos pra ser ideal pra você. Pode ser AC DC e pode ser maravilhoso, sabe? Descobre como ele gosta de se vestir em vez de pensar que só quem usa camisa xadrez merece sua atenção, e que gola V é coisa de playboyzinho. Descobre o outro e, se você não gostar do que viu, cai fora porque não faz mal. Aliás, é natural.
O que não dá é pra passar a vida inteira esperando alguém tal qual você planejou, porque o fim desse caminho é sempre uma decepção: Ou o cara dos sonhos nunca vai chegar – e muito provavelmente não! – porque é realmente complicado obedecer a todos os requisitos de um amor por encomenda e ser alguém real, ou ele vai deixar de ser o que sempre foi pra se tornar o que você sempre quis. E, pode acreditar em mim: Vai perder a graça.
Vai faltar o que descobrir, vai faltar verdade, espontaneidade, autenticidade. No fim, você não vai saber o que fazer com tanta perfeição fajuta, e vai se convencer de que a vida realmente entende da “pessoa certa” melhor do que você.
Então esquece a pessoa certa. Esquece os pré-requisitos preconceituosos de estilo de vida e bom gosto musical, porque as pessoas são muito mais do que dá pra ver em um perfil de facebook ou em uma conversa superficial. Vai conhecer as pessoas em vez de supô-las, combinado? A pessoa certa é a pessoa que não abre mão de ser ela mesma. E, pensando por esse lado, tem milhões de pessoas certas por aí.
