Suponho que ninguém mais acredite em “felizes para sempre”. Ainda bem.
Na geração do sexo banalizado, dos casamentos que duram um mês e da pegação escancarada e sem compromisso, é reconfortante pensar que as pessoas já compreendem que nada dura para sempre, e que a citação “que seja eterno enquanto dure” seja, cada vez mais, fervorosamente repetida por nove entre dez jovens amantes.
Calma lá, eu não estou comemorando as paixões efêmeras nem dando pulinhos de alegria sobre o túmulo do verdadeiro amor. O que me alivia, na verdade, é que junto com essa irritante mania de desapego, tenha surgido certa maturidade para compreender que o amor não é capaz de nos salvar de coisa nenhuma. As pessoas compreenderam – ou não – que no jogo da vida não existem duplas fiéis: é cada um por si, com algumas colaborações especiais.
Não se vê mais tantas pessoas depositando todas as suas fichas no amor. Não se tem mais moçoilas com sonhos românticos de se casarem ao pôr-do-sol com uma coroa de flores na cabeça até que a morte os separe. E isso, embora nos pareça a morte irremediável do amor romântico e incondicional, tem – como todas as coisas na vida – um lado positivo: as pessoas sofrem menos por amor porque esperam menos do amor.
E, se você quer um conselho de quem se distrai observando os sentimentos humanos, esperar menos deles é o melhor que se pode fazer. Por que o amor, como tudo na vida, obedece a interesses e conveniências que lhe são alheios.
E isso quer dizer que, sim, até o cara mais apaixonado do mundo vai te abandonar um dia se isso for o melhor pra ele. O amor pode ir embora, ele pode se encantar por outro sorriso ou simplesmente juntar suas roupas e sair pela porta da frente, com um adeus distraído e sereno. E você pode fazer isso também, cedo ou tarde: basta que isso lhe pareça conveniente. É cruel, mas é assim que o amor funciona, meus caros.
E quando você compreende isso, tira um peso imenso das costas porque para de projetar as pessoas e os sentimentos. Quando você compreende a efemeridade das relações, tudo se torna mais leve porque você deixa de esperar do outro o que nem mesmo você seria capaz de fazer: amar e ser fiel eterna e incondicionalmente.
Depois que você toma consciência de sua permanente solitude – e entende que cada pessoa importante na sua vida está nela de passagem – você aprende, mesmo que na marra, a se valer sozinho. A estar um pouco menos despreparado para os duros golpes da vida e do amor – porque de fato preparados suponho que nunca estejamos.
Você tira a capa de romantismo que costuma revestir as relações e entende que qualquer ser humano – inclusive você – faz a escolhas que lhe convém, mesmo que para isso o amor precise ser deixado para trás. Aliás, amores são deixados para trás todos os dias, todos os minutos, todos os segundos. Esse é o curso natural das coisas e, quanto menos tempo demoramos a nos acostumar a esta cruel realidade, mais rápido aprendemos a nos proteger de nossas próprias projeções.
Perdoe a sinceridade em demasia, mas, no seu lugar, eu me adquiriria o hábito de dormir sem conchinha de vez em quando e me acostumaria com a idéia de que quem hoje morre de amores por mim – seja um companheiro, um amigo, um familiar – pode, amanhã, sequer me cumprimentar, como acontece por aí todos os dias, e que não me restará alternativa a não ser sobreviver. Estamos, todos, absolutamente sozinhos. Vence na vida quem se conforma.